domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Eles" não querem que a gente saiba...


Todo mundo de vez em quando olha pra cara da Fátima Bernardes, do William Bonner depois de uma notícia qualquer e pensa: que história é essa!? Isso em geral quer dizer dúvida diante da cara cínica que noticia algo como se fosse outra coisa... Ah, e antes de qualquer coisa, os jornalistas citados aqui não são nem especialmente odiados ou amados - foram nomes escolhidos ao acaso...

Lady Di morreu - ou mataram? O homem pisou mesmo na lua? 11 de setembro foi conveniente demais ao Bush...?

A ideia é que nem tudo é o que parece - aí basta que a gente descubra por intuição ou pesquisas na internet que aquela música que tá bombando na verdade é uma cópia frankenstein de dois ou três outros sucessos de épocas outras, que a gente fica se sentindo um Sherlock Holmes, uma Miss Marple. Claro que uma certa dose de 007 ou Arquivo X nos couros atiça a imaginação de quem já não se contenta muito com as explicações que nos dão sobre os fatos e eventos. De vez em quando algumas teorias da conspiração se confirmam - os EUA tinham sim um plano pra invadir o Iraque a qualquer custo a tal ponto que tiveram a cara de pau de forjar provas, e etc... Então porque não pensar que há um movimento maligno inserindo mensagens sublimares com apologia à homossexualidade nas letras dos hits mais tocados nas rádios para o público jovem? Porque não pensar que os EUA e a China possuem uma super-arma com a qual podem causar terremotos de grandes proporções no ponto do globo que quiserem? Porque não pensar que o Brasil está em vias de fabricar uma bomba atômica com ajuda do Irã pra consolidar a sua posição de potência diante das demais...?



Teorias da conspiração são divertidas. Você começa com uma ideia e quando vê já escreveu o roteiro de um filme B de ficção científica. E a criatividade conspiracionista não tem limites. Há quem diga que existe uma "máfia gay", ou ainda um projeto genético que tem como objetivo eliminar os negros dos Estados Unidos; há tamb´me quem diga que o Barack Obama que vemos, ou a Madonna que se expõem em público ao perigo dos opositores e doidos de plantão são ne verdade clones, ou robotoides, cópias artificiais e orgãnicas perfeitas das pessoas que substituem...

Uma lista completa das teorias da conspiração vocês podem ver nesse link aqui.

Essa história de inconsciente, de causas ocultas, motivações secundárias e terceiras excitam as mentes, nos fazem às vezes querer ver no que vemos mais do que vemos. Acho que isso até certo ponto é normal: uma mistura saudável de curiosidade e dúvida é o que nos fez passarmos de primatas não muito eficazes existencialmente para primatas existencialmente menos burros, i.e, Homo sapiens sapiens (a nomenclatura é relativa, claro). Mas cuidado pra não acabar como Russel Crowe em Uma mente brilhante, ou Bruce Willis em "Teoria da Conspiração" - se bem que nesse último a teoria não era só teoria... Mas enfim. Cuidade pra não pensarem que eu estou alinhado ideologicamente com um grupo que tem o domínio da internet e que com esse texto chato e aparentemente desinteressado sobre teorias da conspiração pretendo justamente desvalorizar a questão, transformando o problema ou preocupações fundamentadas em meras paranoias divertidas que serão esquecidas ou diluídas num conto ou blog sem graça...



"There's more to life than this", diz a Björk. "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Esse eu esqueci quem disse".

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Esses dias eu vi: Deixa ela entrar


Saí do cinema sem saber direito o que pensar: romance, terror, suspense, drama... A palavra coringa "estranho" me acudiu mas eu rejeitei porque é muito fácil. Mas vale no caso. Antes a história:

Oskar é um menino magrelo e mole de doze anos que vive sendo perturbado (ou, como se prefere hoje, "é vítima de bullying"... argh) pelos colegas na escola. Um belo dia - belo não, os dias desse filme têm todos uma tonelada de neve e um pingo de sol, porque estamos na Suécia, nos anos 80 - ... Um "belo" dia, vizinhos estranhos se mudam para o apartamento do lado, um homem e uma menina, Eli.


Mortes e coisas estranhas depois (o menino coleciona num caderno notícias policiais de jornal), Oskar se aproxima da nova vizinha. Seguem-se mais peripécias que incluem uma cena tocante: num lugar escondido, com o dedo cortado para que se tornem irmãos de sangue, Eli não se aguenta de fome e lambe o chão em que goteja o líquido vermelho de Oskar... que fica estarrecido. E oui, Eli é vampira. Vampira? Na verdade é um menino que foi castrado na Idade Média, e que têm sua idade conservada eternamente pela sua condição...


O romance é bonitinho. Há cenas agradável e desagradavelmente nojentas. A trilha sonora é piegas - digam o que quiserem, mas que eu saiba, o filme ganhou dezenas de prêmios e nenhum pela trilha sonora. No final há uma desforra trágica com os coleguinhas chatos e a cena final indica o início ou continuidade de um ciclo.

O filme tem cenas sensíveis de um amor leve, e há laivos de reflexão sobre a vida, solidão, amor, etc. A neve não pára de cair um instante. Há muitos gatos também (eu ri na cena em que eles demonstram seu ódio pelos vampiros...) e a sutileza do cinema europeu predomina em cada tomada, em cada minuto a mais em que sua paciência é testada mas bem paga pela cena seguinte. 

Quem gosta de vampiros vai gostar. Quem não gosta, acho que vai gostar também. Sozinho eu não vejo de novo, mas se alguém me chamar, eu vou.

O título original é Låt den rätte komma in - Let the right one in, em ingrêis.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esses dias eu vi: Atividade Paranormal


Há um mês mais ou menos uma aluna me falou desse filme. Meu interesse foi quase nenhum - ela falou em Bruxa de Blair, suspense, pesadelo... Me considero uma pessoa problemática nesse assunto de acreditar em coisas difíceis de acreditar: prefiro sempre as explicações que incluam objetos que eu possa tocar e manejar; o vento é ar se movimentando e não um peido de um demônio que veio me subjugar... (olhos no escuro são peferencialmente sinais de esquizofrenia do que motivos pra se achar sensitivo...) Enfim.

Resolvi ver Atividade Paranormal depois de saber que na Itália pessoas histéricas após ver o filme saíam com o coração na boca, com palpitações, suando frio, ou sendo carregadas por outras ao hospital [Boo!]. Se for um tipo besta de lance de marketing, tudo bem, gosto dessas coisas. Mordi a isca e vi o filme também.

Senti palpitações? Passei mal? Não. E nem vou dizer que agora acredito que o vento à meia-noite é o peido de um demônio e que vou dedicar as poucas horas livres da minha vida na pesquisa de seres invisíveis e que perturbam seres humanos.

Mas direi que: o filme dura uns 137 minutos, e acho que durante dez por cento disso lembrei dos momentos em que implorava pra dormir com os meus pais no quarto quando supunha ou o bicho papão ou um alienígena debaixo da cama.

Atividade Paranormal usa um efeito que tem sido usado com certa frequência no cinema atual: vai no estilo pseudo-documentário, ou, antes, pseudo-biográfico: pega-se as câmeras cinematográficas profissionais e se modificam as imagens para dar a impressão de que se trata de uma digital caseira que registra momentos singelos de pessoas normais vivendo suas aventuras e peripécias. O pioneiro nisso, pelo menos o mais famoso na história recente do cinema foi a Bruxa de Blair. Depois houve vários. Aquele do monstro em Nova York, Distrito 9, contatos de quarto grau, entre outros. O forte dessa técnica é que você, mesmo sabendo que se trata de uma ficção, se deixa levar pelo enquadramento impreciso, pelos tremeliques, pelas "imperfeições", pela interpretação relaxada dos atores (que quando são suficientemente bons, como é o caso, contribuem com o clima "isso aconteceu mesmo" do filme) etc.

Muito bem. Vemos em Atividade Paranormal um casal belo, simpático e promissor que vive sua vida tranquilamente, e que de repente começa a testemunhar coisas estranhas. O rapaz, cético e pragmático, decide usar uma câmera pra registrar tais coisas estranhas. E registra. No começo, coisinhas, bobagens: é um guabiru? A geladeira viçando? Não é nada? Com o passar do tempo, eventos cada vez mais inquietantes se sucedem... o suspense desse filme é tão bem construído com um jogo entre dúvida e descrença e evidências, que a clássica porta que bate - que na verdade no começo nem bate, só se mexe - fez meu coração pular. Não há mesmice nesse filme. Tenho que admitir que a coisa é bem feita. O ritmo de suspense e medo é constante. O fim é trégico e muito perturbador e não me fez me arrepender de ter gastado uma hora e meia noturna na frente do computador.

Assistam. Não vou fazer nem uma advertência porque já fiz propaganda demais e o Adsense olhou pra mim com desprezo comercial - não estou ganhando nada mesmo. Mas vale a pena. Espíritas e pessoas afins vão adorar Atividade Paranormal.

Pretendo rever.





[Ooops!!! A terceira imagem não é um poster oficial do filme, ok? :)]

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma muzga

Les Marionettes


Les Marionettes (vejam o vídeo)
>> Christophe
(1965)

Moi je construis des marionnettes
Avec de la ficelle et du papier
Elles sont jolies les mignonnettes
Je vais, je vais vous les presenter

L'une d'entre elles est la plus belle
Elle sait bien dire papa maman
Quand a son frere il peut predire
Pour demain la pluie ou bien le beau temps

Chez nous a chaque instant c'est jour de fete
Grace au petit clown qui nous fait rire
Meme Alexa cette pauvrette
Oublie, oublie, qu'elle a toujours pleure

Moi je construis des marionnettes
Avec de la ficelle et du papier
Elles sont jolies les mignonnettes
Elles vous diront, elles vous diront
Que je suis leur ami, que je suis leur ami



Bem diferente de Avatar... mas esse clipe também é bonito.
Um rapaz singelo e tristonho que monta marionetes com barbante e papel - não são dignos de Débora Stocklos os gestos, os passos dos atores no clipe? 

A música cheira a solidão - a tal ponto que, "tipo", Christophe já começa a dialogar com as suas criaturas de papel. O auge da paranoia é quando ele diz que elas vão dizer a todos nós que elas são amigas dele (amigas dele, amigas dele, amigas dele...!) num tom febril e que de jeito nenhum lembra um artista se apresentando com seus bonecos diante de crianças sorridentes e aplaudentes.

Vejam o video, c'est joli... Pra rir e pensar.

(o criador não vive sem suas criaturas)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dicionário das coisas (ou as Vacas Terroristas)

Jardim: “É a paragem onde transmorfias maravilhosas acontecem no silêncio mais absurdo que pode existir: o da vida que se faz. Orquestras deveriam soar, trombetas estrondosas deveriam gritar, ou pelo menos uma flauta e um oboé deveriam acompanhar cada desabrochar de flor e luzir de folha. Alquimistas, magos, cientistas olham pro tronco que se ergue, pro sol que se deita na folha, pras cores que vemos e que não vemos, com mágoa – a de não poder, a de ter que se contentar com o mistério, sem talvez nunca achar sua luz. Quando a chuva em gota escorre na poeira seca de uma folha verde vivo fica mais fácil acreditar em Deus”.


Há uma magia sim - como diz o autor de cujo conto extraí algumas palavras (ele se chama Vinícius Bezerra) - nas plantas. Elas são sol, são água, são ar e terra. São belas e simples. Devemos a nossa perturbada existência a elas - que nos dão o seu xixi gasoso, o oxigênio, que respiramos para nos mexermos e construirmos coisas que as matam - não é lindo? Mas pagaremos o preço. Já começamos a pagar aliás.

Eu sei que isso é excessivamente meigo, mas eu tive um jardim quando era criança. (Não tenho fotos porque não tinha digital na época e as imagens meigas e toscas passavam em branco...) Gostava de vê-las crescer. As vizinhas me elogiavam confusas sobre o que poderia significar um menino de sete anos cuidar por conta própria de um jardim. Regava todo dia, comprava o adubo - daqueles que saem do intestino das vacas... Era irônico que grupos destas últimas, talvez num tipo extremista de reivindicação do que é seu (a um nível molecular) ou como forma de vingança contra a humanidade (personificada em mim, segundo o olhar terrorista das vacas), entrassem portão a dentro e comessem as pétalas rosas e amarelas, as folhas verdes, os estames frágeis... para mastigarem durante horas e transformarem depois tudo em bosta... que seria colhida por mim em seguida, oferecida às plantas com amor e cuidado, fechando assim o ciclo de terra, flor, vida, beleza, morte, bosta, terra...

Tudo flui, tudo vai e volta, nada se cria, tudo se transforma...

Estou no meio do ciclo. Cuidado com as vacas.

Meu jardim, depois das vacas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Esses dias eu (re)vi: Ensaio sobre a cegueira

Blindness. Cegueira. Não ver. Perdido. Só.

Poupo-me e poupo-vos de uma tentativa fadada ao insucesso de compor uma crítica superlegal. Acessem o blog do próprio diretor, c'est mieux: http://blogdeblindness.blogspot.com/



Saramago chorou ao fim da première de Ensaio sobre a a cegueira. Disse a Fernando Meireles que estava sentindo naquele instante exatamente o que tinha sentido ao terminar o livro. Eis um Elogio. Adorei o filme - prefiro o livro, pelas razões que fazem em geral as pessoas preferirem os livros: a imaginação pinta as cenas e os personagens de uma forma bem mais fiel ao que eles são de fato: o que o leitor quer que sejam. Mas que a versão meireliana do Ensaio é a melhor possível, sem dúvida.

O casal japonês me fez lembrar de Lost - nada a ver, mas é a mesma forçação de barra no sentido de multietnizar tudo, de variar tudo... Tudo bem, entende-se a mensagem, foi uma licença que o diretor tomou e que não prejudica em nada o desenrolar do filme ou a fotografia. Mas que pra mim foi uma surpresa, foi.

O resto do filme é como uma transcrição ao contrário de um romance. Nada a acrescentar. Bem...

Nos EUA - sempre os EUA - os cegos fizeram protestos e boicotaram o filme. Porque? Porque achavam que na película os cegos eram retratados como pessoas sem moral, agressivas, egoístas, etc. Dâaaaaa...

Que cegos sejam seres humanos é fato às vezes esquecido pelas pessoas. Na alcunha pseudocarinhosa, aliás, pseudocaridosa de se referir aos cegos o "ceguinho" estão incluídas uma série de noções ingênuas... Cegos não sentem desejos; cegos são bons e não fazem jamais o mal, etc. Bien, isso não é verdade. Mas o meu argumento não é esse:

O óbvio contra os protestantes profissionais americanos é que uma cosia é nascer cego - e contar com a assistência obrigatória dos não-cegos para viver como seres humanos normais, que é o que são; outra coisa é ser cego entre cegos lançados numa luta pela vida com a qual não se sabe lidar, já que a cegueira foi adquirida. É tênue a linha entre um por favor e um soco por um pedaço de comida ou por uma noite de sexo: é isso que o filme mostra, e a cegueira geral foi o ingrediente usado para apodrecer a massa da sociedade humana em sua moral e ética. Há outras maneiras, e estamos produzindo algumas toda hora: daqui a pouco a água fica mais escassa do que já é, e aí, a moral, os bons modos terão algo a mais diante do que se dobrar. Pessoas que se perdem nos Andes depois de um acidente de avião comem  cadáveres humanos. Amigos e colegas comem pedaços seus aos poucos, a depender da situação...

Seres humanos são superflexíveis: são anjos hoje, demônios amanhã: pegue a dona Mariquinha, que todo dia reza não sei quantas rezas a não sei quem e coloque numa situação periclitante, obscura, de stress extremo, de desmoralização, de dilapidação da sua dignidade; veremos que Lúcifer sairá com medo dela - não de sua bondade, mas de sua malignidade...

Ah, quem não é cego sabe que no fim das contas somos todos cegos e do pouco que vemos é que tiramos o que nos leve à melhor maneira de se ver e viver.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

BBB, o sentido da vida e o meu cool

Eu estava pensando (tal atividade às vezes me oprime) em como um programa que - pelo menos oficialmente, nas mesas dos bares da vida, na roda intelectualóide ou pra uma pessoa que se acabou de conhecer - é visto como no máximo um alojamento para idiotas escolhidos a dedo, cada um representando um perfil caricatural dos vários tipos humanos da nossa sociedade... Ou no mínimo uma bosta mesmo. Sim, mas a questão é, como isso entra na sua décima edição e com participação massiva das pessoas. "É mesmo?" - não venham com essa, 80% das pessoas com quem lido (artistas, professores, universitários, escritores) sabem do que se passa dentro daquele circo.

Eu no meio do mundo, com um megafone hippie, grito, em tom de angústia: PORQUEEEEEEEEEEEEEEE??? (com eco)

Dando uma - dando uma de psicanalista: todo mundo gosta de ver. Novidade! Vou além: prestar atenção demais no outro tem, no mínimo, umas duas funções: aprender ou confirmar comportamentos e/ou esquecer da pobreza da própria existência mergulhando nas dos outros. Ohhhhhhhhh!!! Oui! Botem uma moça com síndrome de down se apaixonando por um cego; uma albina fazendo altas reflexões sobre ecologia ao lado de um paraplégico enquanto que um rapaz sem dentes questiona a introdução das novas tecnologias na criação artística a um surdo-mudo. Peguei pesado. Mas vejam... ver o quê? A televisão terá sido desligada há muito tempo - salvo os albinos, paraplégicos, pais e mães das pessoas com síndrome de down (além dos próprios) e os cegos (isso não é pra rir) gastariam momentos de suas existências diante desse "reality show". A pobreza, as insuficiências da própria vida bastam, né? Oui - ninguém precisa se torturar vendo o que não quer pra ganhar um lugar num céu cuja existência é incerta. Sejamos belos, felizes, lindos, saltitantes e hi-tech! Eu queria um iPad...

Mas...

Não fujam dos "mas", sempre há um "mas". Não é pecado ver - essa palavra aliás é muito démodée e tem sentido apenas poético. Mas: não se ver é que é pecado. Não se ver vendo e fazendo é pecado. Construir foguetes, falar coisas difíceis e transar no Netuno Motel não é o que nos diferencia dos outros animais - mas sim falar sobre o que se fala, pensar sobre o que se pensa, ver a própria visão. (Profundo demais? Um pouco mais de fôlego, please, a superfície tá cheia e é fácil demais). 

O que eu queria dizer é...

Vejam BBB, pensem no sentido da vida, sejam cool - mas saibam disso.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Esses dias eu vi: Surrogates - Os Substitutos

Imagine ter uma cópia artificial sua, devidamente melhorada (pra que duplicar certas imperfeições?). Imagine poder controlar essa marionete hi-tech a distância, no conforto da sua casa, no melhor estilo Matrix de ser. Imagine poder sentir tudo o que o seu clone, ou substituto sente e experimenta: ir à balada, à praia, transar, pular, etc... Isso tudo estando deitado na sua cama, sem nenhum perigo de ser assaltado e assassinado - se o seu substituto moh-rer, compra-se outro.

Em Os Substitutos a viagem é essa - provavelmente inspirada nos avanços da cibernética, que fez uma macaca na p*** que pariu controlar um robô não sei onde via internet.

A ideia é legal, os efeitos são bons. Mas como uma boa parte dos filmes de ficção científica, do enredo de Substitutos a gente só extrai uma eventual reflexão filosófica ou sociológica sobre tempos futuros, etc: nos transformaremos em preguiçosos na vida real e faremos da existência humana num show virtual e artficial, empobrecido, blá, blá blá...?

Há certas falhas lógicas (98%da humanidade vivendo por trás de um substituto quinze anos depois da sua invenção?) e um certo clichê no sentido de que sempre haverá alguém do contra, se bem que esse alguém do contra não é tão do contra assim (e no fim se descobre que - oops, surpresa! nada era como se esperava...: mas um "nada era como se esperava" tão previsível...). Mas o filme é do bem. Atiça a imaginação: de uma certa forma, o substituto é uma metáfora da perfeição, da segurança, do bem-estar... Vou nem mentir que compraria um se existisse isso.

Assistam, vale a pena. Por exemplo: o substituto do Bruce Wiilis tem cabelo e é uns quinze anos mais joven que o seu"operador" (a pessoa que controla o substituto) - e ainda assim no esquema do filme, é considerado parecido com o original... Quantas rugas a menos, quantos centímetros, quanto de músculo a mais teria seu substituto?

Bem melhor que Dr. Hollywood.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quem criou o mundo (continuação)

 Primeiro dia

Eu sou como a entidade que no meu pseudo-ventre mental germina: ficticiamente neutro. Na verdade estou me repartindo, cindindo-me em partes cada vez mais desiguais, de dois em dois não, de três em três, de modo que agora somos uma trindade de micro-entes rapidamente inchando e conformando novos brotos e...

Terá nome esse meu homem que não o é, ou essa mulher que nunca o foi? Não, acho que é cedo ainda. Não queria ser como a grávida que antes mesmo de haver um pai já dá nome ao que nem existe... Mas ele, ela, existe. Existe sim. A folha branca na tua mente já deixou de ser alva. É alvo, e a marca, o ponto vivo que treme e cresce e treme, precisa da flecha de um vocativo – essa entidade precisa ter como ser invocada. 

Como disse, ele não é bem ele, nem igualmente ela. Nossa língua nos dá somente a opção de dizer “é”, antecedido do vazio, pra fazer menção a uma terceira pessoa ignota (a primeira seria tu ou eu?). Porém esse vazio do “é” é tão vasto que nem eu agüento a vertigem, e pra evitar os problemas e ambigüidades que não planejadas, proporia como alcunha ao nosso filho – pois não é um rebento nosso esse ser, nascido de nós, da mancha que fiz no branco da folha da tua mente? Se bem que, similarmente, tu manchas também minha mente com tua ausência-presença, e etc..., e ficamos enfim pãe e mai de nosso filhoa... Sim, para evitar problemas, chamemos o fruto de nosso encontro de Quem. 

Quem!

Quem nasceu então já no nosso mundo compartilhado de palavras. Quem, que rima com hein, e poderia ser um choro de bebê. Quem está aí. Quem vive. Quem crescerá depressa e dirá uma primeira palavra que ouviremos tensos de alegria. Quem caminhará trôpegoa e em seguida só. Quem sorrirá muito para depois chorar a cada decepção biográfica de sua tragédia não-grega. Quem amará, Quem odiará – e será odiadoa e amadoa: Quem saberá qual mais dos dois? Quem morrerá. Quem, Quem, Quem... 

Pensando bem, Quem parece trinado de pássaro cálido, de um passarinho amarelo e preto em crise existencial... Mas olha que a falta é da nossa língua – que não tem “das” nem “it”. Tem “isso”. Mas “isso” acho muito desrespeitoso – chamarias uma cria tua de “isso”?

Meu primeiro minuto-milênio-dia está passando e não temos nem o nome... é que neste mundo nosso, de papel, pensar e tinta, tudo tem que ter nome, pois tudo aqui é de fato nome! 

Olha só, Quem, para existires, tens que ser mais que tu, tens que ter um nome, tens que sê-lo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Dicionário das coisas


Pequeno dicionário pessoal:


Amigo: Você caminha, você chora, você sorri, cai e levanta. Se quando olhar pro lado não houver só o horizonte - de mar ou de prédios ou de carros - ; se quando chorar você não ouvir apenas o seu próprio choro; se quando soltar uma gargalhada houver uma outra mesclada à sua, no mesmo tom (talvez soluçante, estranha, ridícula), na mesma sintonia; enfim, se quando estiver ébrio de tanta alegria em excesso ou tristeza demais, uma voz sóbria ao lado dizer coisas chatas, a pessoa ao lado é um amigo.

Gosto de me olhar de cima de vez em quando. Como se fosse um cientista diante de uma cobaia numa caixa de vidro - e analisar.

Quando faço isso vejo picos de doses de hormônios e neurotransmissores pelo cérebro, pelo corpo, definindo assim a flutuação do humor durante o dia, a disposição da mente pra sentir mais ou menos prazer nas diversas atividades diárias...

Mas aí lembro que na verdade estou lá dentro, e que ser o cientista do lado de fora é mais um exercício intelectual do que outra coisa. Não que pensar seja inferior a viver - ou vice-versa. É que gosto de me ver de longe e de perto, em vários espelhos e assim ter uma ideia melhor do que existe em volta... etc...

As vezes que olho, de uma janela, no meio do mundo, no  meio do dia, e sinto uma felicidade repentina, um bem estar injustificado (só o sol dessa cidade, o calor, já injustifica muita coisa boa...), resisto a me questionar o que se passa, e me convenço apenas aceitar o que se sente. Eu contemplo. Eu deixo ser. É de graça e compensa o trabalho de ter que ser q se tem a maior parte do tempo...

Voilà.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Quem criou o mundo

Dia zero

Antes de qualquer tudo, pensa numa folha branca: tabula rasa cósmica, face do abismo, um Nada.

Nessa folha branca que pensaste, escreverei uma vida, e por efeito de mancha gráfica, psicográfica, talvez holográfica, e, eminentemente, trágica (não há como não sê-lo, eu juro), quero que surja daí um homem.

Exatamente um homem não, mas sim o que há antes de um homem, e antes de uma mulher: eu, estudante de mim e do mundo, busco o que há antes dos gêneros e da bifurcação que lhes deu origem: busco a célula-todo, botão totipotente, ente sem esquerda nem direita e cinza de preto e branco unos, a um tempo sola do pé, olho, neurônio e intestino, virtuais e indecisos – antes, o bem antes... Quero evoluir nesse caminho de retorno abstrato – ou involuir, aliás. Ou ainda, evoluir mesmo, como há quem diga do assunto.

À imagem e semelhança do “quem” e do “aqui”, neutros pela Natureza, creio que vai ser essa coisa, esse objeto não de estudo, mas de contemplação. Vai ser ente animado isso, um animal portanto, como nós, como tu e eu: cabeça, tronco, membros, ódio-desejo. Nada se vê ainda, trata-se de um borrão tudo. E sinceramente não tenho pressa, que é inimiga da perfeição como sabemos, se bem que não necessariamente amiga da imperfeição.

Não quero bater recordes, me dou o prazo de seis dias, seis mil anos... seis minutos contudo talvez bastem, modéstia à parte.

É bom que não esperes nada demais porém. Meu traço é como traço de criança, escrevo letras trêmulas, com um incerto medo e, confesso que hesito. E o pior é que já entrei na dança: se eu caio quebrando o pescoço a platéia pode pensar que é mais um passo pensado – um pós-moderno passo! E vai que aplaudam a ousadia do artista, eu, que, arregalado pois, só dançaria mais e mais e mais...

Ou não! Vai é que eu queime a língua, fure a mão com a caneta e morra afogado do sangue dos tomates atirados ao palco...

Esperem pacientes um esboço, logo. Pelo menos neste primeiro dia que não nasceu.