quarta-feira, 3 de março de 2010

02-03-1963 - 18-07-2007

Ontem foi dia dois de março. E as palavras vida e morte se uniram - duas águas que se misturam em ondas que nos sangram e nos matam às vezes.

Ontem foi dia dois e eu vou mergulhar em águas de mar das quais bebo todo dia. Essas águas não refrescam e não são as que formam a maior parte da vida que há em mim. Na verdade é uma como dose forte de hormônio da tristeza que circula pelos meus ciclos vermelhos de dentro e me esfria um pouco todo dia, me escurece um pouco toda noite, me dão sonhos pesados de vez em quando dos quais nem sempre acordo...

Essas águas são eternas porque têm o sal do mar - e, como o mar, dá vida a tudo o que existe nesse mundo, como também tira e um dia vai tirar de todos o que deu. 

Eu vim dessas águas - um abismo, um escuro quente, um escuro onde tive tudo que queria ter e um pouco mais - uma caverna úmida, um útero, um mundo meu onde era eu e Ela ao mesmo tempo.

Eu era carne de outrem e já era eu. O mistério da cisão, um em dois, foi a minha essência. E a essência era o mistério... que foi só parcialmente resolvido com o nascimento e a primeira inspiração, o primeiro fôlego do mundo de fora.

Daí pra frente, saído das águas quentes de mar, de mãe, tudo foi um processo de cada dia mais secura.

Eu evoluí como evoluiu o primeiro ser a pisar na areia até chegar ao que exatamente sou, que justamente não sei e inexatamente transcrevo em palavras em que me busco... e quando me busco encontro as mesmas águas, a mesma falta, o mesmo seco que é a vida sem a vida dEla.

Eu não sei e não quero dizer o vão vazio que é. Se conseguisse pronunciar a palavra exata que traduzisse as palavras lentas e pesadas e negras que fluem de vez em quando como uma lava gelada de dentro de saudade... se pudesse condensar toda dor e falta e medo e angústia e os nãos que me digo e que me foi a ida dEla, eu simplesmente contaminaria com seu som cadente e grave dessa os ânimos de quem pronunciasse ou ouvisse tal palavra... e basta a dor de um. A dor é sempre de um. 

Se bem que a minha dor e a dos meus irmãos são uma como somos um com Ela nessa coisa de carne e sangue.

Que nós sejamos Ela não basta. Se uma parte Sua vive em nós, uma parte nossa com Ela se foi  e isso dói. Dói de um jeito que se sente a própria matéria vibrando em morte, a nível pequeno e microscópico se decompondo como se o de que sou feito fosse feito de matéria escura e quase de "não"...

Há uma face de sol porém. A face e as palavras dEla eram de sol e me iluminam ainda e sempre. As lágrimas são chuva. E os dias são nublados, mas com luz.

Eu queria ir mais fundo nessas águas mas as mesmas não deixam e me pedem pra emergir com o risco de não querer voltar mais...

Não quero precisar dizer que esta vida que sou é pouco mais que nada sem a parte da dEla em mim. Seus olhos, Sua pele, Seus gestos e jeito são o que me fazem todo dia ser Vinícius e sobretudo nesse dia ser Você, que é aqui e sempre.

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