segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ânus 80

Algumas palavras de um leigo sobre modas e modinhas:


A pessoa que vos escreve veio ao mundo no ano de 1982. Ano em que coisas interessantes, é óbvio, aconteceram (quantas pessoas morreram em guerras, as lágrimas que caíram no dia do meu nascimento, os orgasmos que ecoaram no mundo, a criança que não vingou, a festa que bombou em Bombaim [Mumbay, eu sei, mas prefiro Bombaim] fica pra outro post do tipo reflexão profunda filosófica). Década de 80: legal, euforia econômica, Guerra Fria truando, as pessoas curtindo a vida adoidado e...


A década de 80 foi a década de quase toda a minha infância - era um mundo pré-internet, pré-conexão, o que hoje me parece insuportável, apesar dos cheiros, das músicas, dos sentimentos e dos momentos que esse período da minha vida evocam (com suspiros).


Quanto à moda, não era muito ligado pq enfim, minha mãe é que me vestia (mesmos modelos de roupa pra mim e pro meu irmão), mas sei reconhecer os anos 80 nas vestimentas das pessoas... e nas pessoas de hoje, chega a ser algo... patético.


Os óculos, as calças, os cabelos, as camisas - tudo remete aos anos 80. Aprecio diversidade, aprecio ousadias, aprecio o novo e sobretudo o novo combinado ao velho ou ao tosco (gagaísmo...). Mas... EVERYBODY AND EVERYCABRA? 


E fora o cinema, a música, as artes - tudo revivendo a década de 80 sem que nem pra quê. Não há fundamento racional pra esse meu desgosto em relação a essa modinha (o título de moda já venceu), admito...


Enfim, só acho insuportável ver pela rua o exército de clones sem graça marchando com cara de super-fashion. 


Anos 80 partout: no me gusta.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O sol



O sol, o sol...
Meu deus o sol é tanto
Que o ar de fogo arde água
Vibra corpos e folhas
Grita carros e ferros
Sacode energias em brilho agudo
Causticamente vivendo e matando
Todas as coisas sem nexo com o dia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Auto-autoria

Dedicar mais que algumas dezenas de minutos esparsos durante as 24 horas do dia a questões relativas a “como” e ao “porquê” as coisas acontecem e desacontecem pode ter efeitos nocivos à saúde tais como depressão, emoíces, não-operacionabilidade biográfica crônica, paranoia e religiosidade fanática.

Mas se vc faz isso de maneira comedida, com um pé nos livros e outro no dia-a-dia, tudo dosado com um pouco de cinismo, auto-crítica e amor (posso falar sobre esse termo depois, já adiantando que não tem nada a ver com o conteúdo do post anterior, que trata mais de um tipo de histeria melosa), os resultados podem ser de bons a ótimos.

Jorge Luis Borges, esse escritor argentino que me salva em momentos em que nem sei que estou perdido, coloca uma ideia num de seus contos, Deutsches Requiem se eu não me engano, que, a princípio parece ingênua e sem sentido, mas que aplicada ao modo de pensar do quotidiano produz... sabedoria.

É o seguinte: imagine que tudo o que acontece, cada detalhe da saga pessoal de todo ser humano (da gorda barata que na noite do restaurante ao ar livre pousou no seu ombro até o último minuto da noite que lhe rendeu o encontro com o amor de sua vida), tudo, tudo mesmo, tivesse sido planejado em seus mínimos detalhes, em suas mínimas excentricidades e clichês, adivinha por quem...? Por vc mesmo!? Sim, como se o que vc vivesse fosse um tipo de filme escrito por si mesmo num momento de passagem de uma vida a outra... ou mesmo sem essa história espírita: Imagine-se escritor de sua própria vida.

Voilà. O raciocínio que se seguirá adotando-se essa hipótese vai ser então: com que finalidade eu quis que isso acontecesse comigo? E nessa pergunta o sentimento de auto-confiança, de responsabilidade se casam com o de potência e... vontade de viver (sim, estou descrevendo o meu caso).


Esse pensamento original (que não é de Borges) acaba meio que servindo de ponte entre a nossa mentalidade humana questionadora da maquinaria de causa e efeito de todas as coisas (com todos os seus adendos característicos, quais sejam revolta, infelicidade, loucura, etc), e a Vida como ela se passa. Não se trata de atribuir-se culpa pelo que acontece, aconteceu e acontecerá, mas de um estratagema para se tranquilizar e de entender-se e entender o funcionamento do mundo de uma vez só.

Claro que a ideia soa como heresia pra muita gente, sobretudo pras religiosas. Para essas pessoas apenas digo que tentem relaxar, imaginem-se então coautores de suas próprias vidas ao lado de sua Divindade máxima pessoal preferida, seja ela qual for.

Sei que gostei muito do esquema e as conclusões a que eu pessoalmente chego sobre o enredo da minha autobiografia cósmica por mim mesmo são no mínimo, instigantes... perturbadoras às vezes.

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu te amo em câmera lenta correndo na praia

Sim, eu ouso. De um mero espécime de Homo sapiens sapiens que usa sopros e grunhidos articulados para se comunicar suponho poderem sair definições e ideias que tenham alguma coisa  a ver com isso que chamamos realidade...

But i’m not the only one, então:

Pensar que essa história de amor meloso e com corações voando ao redor de figuras de sombra em fundo vermelho nem sempre existiu é estranho para a maioria das pessoas. Hollywood e Manoel Carlos dão continuidade ao esquema segundo o qual o amor é um eterno e conturbado drama, a meta da vida de uma pessoa, o ápice da novela sentimental que cada um vive, e assim fazem parecer natural e normal algo que foi plenamente inventado lá pra depois da idade média...

Pois sim, amor como sinônimo de melosidade teve data de nascimento, e é interessante notar como se deu o parto... por falar em parto, vcs já viram um parto? Já ousaram visualizar em que circunstâncias todos os quase sete bilhões de seres humanos desse planeta vieram ao mundo? Pois vejam -  e depois pensem se o espetáculo sangrento do nascimento tem alguma coisa a ver com Julia Roberts e Richard Gere naquela cena da banheira.

“Vc está querendo dizer que a diferença entre a noite de amor entre um casal que se ama e o nascimento doloroso de uma criança é a mesma que existe entre o amor idealizado e o amor real?” – não, estou dizendo que há algo de histérico em querer ver Romeu e Julieta onde na verdade o que se tem é Lessy e Beethoven... É, pq seres humanos que somos, adoramos criar rituais e máscaras pro que fazemos sob os ímpetos do corpo; por isso há quem cinicamente diga “fazer amor” em vez de dizer “dar o ...”. “Ah! Agora vc vai dizer que não existe amor e sim atração física e que tudo se explica a partir de interesses, etc”... Não. Na verdade meu foco é o amor como uma roupa, como um estilo de comportamento que se deve usar. Como permite toda roupa que tenha siginificado social, qualquer um pode se passar pelo que não é usando a roupa que convém: um pervertido pedófilo com uma batina não é necessariamente um padre; um malandro vestido de terno e gravata não é necessariamente um representante do povo... Da mesma forma que um casal suspirante deitado em pétalas de rosa não é exatamente o retrato do amor.

Sendo assim, a nossa música, essa que ouvimos todo dia e toda hora em todo lugar, seria um tipo de máscara sonora: vcs já pararam pra pensar em como os temas relativos  a paixão, amor, carinho, dor de cotovelo e afins se repetem até a exaustão em todo estilo e gênero musical? Não existe música num CD que seja que não fale de saudade, de amor, de beijo, de alguma coisa do tipo... Já perceberam? Porque será? Isso seria uma prova de como o amor é importante, a prova de sua grandeza e de sua essencialidade absoluta e não sei mais o quê? Talvez. Mas então pq não se fala de comida? Porque não existem músicas e bandas inteiras consagradas a cantarem o macarrão, a noite de boca aberta babando no travesseiro, ou o ritmo correto de inspiração e expiração?

Nietzsche dá uma resposta dizendo que o amor romântico, ou a histeria generalizada em torno do amor meloso é uma válvula de escape, ou antes um sintoma da doença emocional causada pelo controle excessivo que desde que o mundo é mundo cristão as autoridades religiosas, via deuses, exercem sobre o corpo das pessoas...

Ahn?

É mais ou menos assim: menina pura entra na adolescência e sua mãe, ao primeiro sinal de peito nascendo diz que pensar em aproximar demais seu corpo do corpo de alguém do sexo oposto (que se dirá do mesmo sexo!) é pecado. A menina contrariada cresce pensando que seu corpo é algo que se deve gongar e dominar como se domina uma fera . Seu corpo é perigoso, e dar a ele exatamente o que ele quer, mesmo que o resultado aparente seja bom pra si e pra outra pessoa, deve ser algo abominado... De modo que toda ação que esteja ligada ao prazer desse corpo pecaminoso se transforma em motivo de culpa – culpa, culpa, culpa: sentimento que floresce como num jardim infinito no adubo da recriminação e das proibições...
(Continua...)