sábado, 8 de janeiro de 2011

O que o olho não vê...

Eu tenho a leve impressão de que essa frase é uma das mais sábias e ao mesmo tempo mais filosoficamente sofisticadas que existem. Ela é a prova contundente de que os dizeres populares têm sim sua carga de sabedoria.

Um pouco de fenomenologia, de construtivismo, com leves laivos de idealismo. Em meio à burrice generalizada, tanto nos meios científicos como nos religiosos e pop, segundo a qual existe algo chamado Realidade ou Verdade com R e V maiúsculo, esta frase é um lembrete, ou o reconhecimento de um lindo, óbvio mas esquecido detalhe que concerne a cada um de nós enquanto seres humanos: nós somos corpos.

E o kiko? 

Ser um corpo não é grande coisa. Todos os seres deste mundo vivem sua materialidade automaticamente, mesmo sem saber. Mas reconhecer que somos corpos é, ou será, um grande passo para a humanidade. Reconhecer que o conhecimento e portanto a razão humana, com ou sem R maiúsculo, estão obrigatoriamente sujeitas ao que nosso corpo, por meio das formas de interação automáticas sensoriais de diversa base (que chamamos de sentidos) vivencia todos os dias a todo momento, meio que destrói as pretensões totalitárias de possuir a Verdade. E ainda, ao mesmo tempo, nos tira da angústia inútil de querer saber de tudo, de achar que com nossas observações e opiniões abarcamos toda a "essência da realidade"...


Se o que o olho não vê o coração não sente, o cérebro não pensa, o corpo não reage, a memória não guarda - isto é, o que somos e sabemos hoje, nesse exato momento (e falo tanto da minha pessoa individual quanto de cada um dos seres humanos deste planeta e fora dele, e ainda de todos juntos como civilização auto-intoxicada) é resultado do que nos revela nosso corpo, nossa existência corpórea. Que exista uma alma é secundário, já que mesmo esta - ou "isto" - também se encontra dependente da experiência sensorial para cometer pecados ou ser abençoada.

Em outros termos, esse belo ditado quer dizer: "Meu mundo pessoal não é O Mundo; a teia de sentimentos e emoções na qual eu vivo é construída por mim mesmo e por aquelas pessoas ou objetos com os quais interajo de maneira direta e pessoal ou de forma reflexiva, por meio do pensamento. Tais sentimentos são função do que meu corpo experimenta e portanto, minhas emoções, e consequentemente, meus pensamentos, minhas teorias, minhas convicções não têm nada a ver com possuir um conhecimento definitivo sobre qualquer aspecto da Realidade Real, mas sim com o que sei que sei, ou acho que sei ou considero que acho que sei".

Não é legal? 

Eu sei que pra muita gente não é - bombas e fogueiras pra que te quero...

Os cinco se sentidos

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