domingo, 6 de fevereiro de 2011

Desconexões


Lendo sobre golfinhos ontem, soube que a reprodução em cativeiro desses animais inteligentíssimos e simpáticos é muito rara, e que a única maneira de se conseguir um golfinho (pros shows à la Flipper, ou pesquisas e estudos cientificos) é "pescando-os", ou seja, extraindo um coitado golfinho do seu ambiente natural - o que aparentemente não é um grande problema, já que eles são das poucas espécies que em inúmeras ocasiões decidem espontaneamente viver entre humanos - cita-se casos até de golfinhos embaixadores, que de vez em quando, e regularmente, deixam seu grupo de congêneres para se aproximar dos macacos inteligentes que adoram brincar na água.

Mas também vi que muitos morrem ao serem aprisionados nos tanques humanos. O que de fato não é próprio apenas dos golfinhos. Praticamente todo ser vivo que quando extraído do convívio social ou familiar no qual se desenvolveu passa por crises que começam a nível fisiológico mesmo e atingem os níveis psicológicos e etc - e vice-versa - culminando não raras vezes com a morte... Seres humanos também são assim.

Ser um ser humano não é uma coisa simples. Não que eu diga que fugir de tubarões e de pescadores idiotas seja fácil, mas estar inserido numa rede tão grande e tão bagunçada (organizadamente caótica: paradoxo básico) de pessoas, coisas e animais, muitas vezes satura, enche o saco. No presente caso melancólico que introduzi com essa história de golfinhos, trata-se de... saudades.

No estado de disponibilidade para conexões que experimento nesse momento, entendo mais do que nunca as ideias metafísicas de conexão sobrenatural que vários povos antigos e pessoas idiotas atuais supõem existir entre seres humanos que compartilham longos trechos de genoma em comum. Mãe, pai, irmãos e irmãs, etc, parecem mesmo fazer parte de um tipo de ser meta-humano, um meta-indivíduo que se apresenta multi-partido em várias versões variáveis... Quero dizer que família é família. Há alguma coisa no sangue que fala alto e grita de vez em quando... E a desconexão às vezes causa instabilidade no sistema.


Eu olho pro mar e mixando meus conhecimentos de biologia (que adoro) com poesia e cibernética, não consigo parar de pensar na primeira "coisa" viva que deve ter ousado sair do mar, e ainda na primeira célula que nadou nas águas antiquíssimas. Que mar em francês seja uma palavra feminina e tenha a mesma pronúncia de "mãe" basta pra me fazer reverenciar "la Mer" e "la Mère" como uma coisa só e magnânima. Juntem a uma paisagem nebulosa de vermelho ou de azul profundo útero, calor, lembrança, e teremos os elementos de um poema melancólico e nostálgico que é melhor eu não ousar escrever.

Impossível não lembrar quase toda hora que sou em grande parte... mar - em francês.


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