quarta-feira, 16 de março de 2011

Mil garatujas pretas pixelizadas fazendo menção a mil grunhidos articulados

As palavras. Vento que sai dos pulmões articulado por buracos e músculos e pregas, que se usa para se fazer e fazer que se façam coisas.

Aprendi com Humberto Maturana que as palavras - tudo o que dizemos - surgem, como qualquer outro tipo de comportamento (e tudo o que fazemos é comportamento no sentido de um braço se mexendo, uma perna, uma boca se movendo, etc... nessa perspectiva, transar é se mexer de um certo jeito, numa certa posição, num certo ritmo; declamar um poema é mexer a boca e os músculos faciais e modular a potência das cordas vocais de uma certa maneira específica; o mesmo para dançar, jogar bola, rezar, etc) - enfim, tudo o que fazemos com o nosso corpo (há outra maneira da fazer coisas que não seja com o corpo? Há outra maneira de ser e existir que não com o corpo? Aliás, alguém que esteja lendo essas linhas já percebeu como é contraditório dizer "nosso corpo", "meu corpo"? Afinal de contas, é um corpo "dizendo"[movendo certas partes suas - boca, nariz, garganta...] a si que se pretence... enfim), tudo o que fazemos com o nosso corpo surge a partir de uma emoção básica, aliás, de emoções básicas, tais como medo, raiva, prazer, amor... Essas emoções são como as marchas de um carro, são configurações de estados físicos biológicos (fisiológicos) que permitem que façamos certas coisas e outras não: por exemplo: estando-se na emoção do medo, é muito improvável que um corpo comece a dançar, ou costurar uma roupa, ou pegar no telefone e cantar uma música - é claro que cada um desses comportamentos é possível num contexto específico, mas falemos do que é geral. Essa história de emoções como palcos nos quais apenas certas coisas podem acontecer e não outras vale tanto para nós arrogantes Homo sapiens quanto para baratas, odiosas Blatella germanica, que sob a emoção do medo, corre e voa, e na emoção da ousadia e da coragem, sobe na sua perna e voa pra cima de você... uó.



 Isso quer dizer que, dependendo da emoção em que um corpo se encontra, certas palavras, certas "ideias" vão surgir e outras não. Dependendo da atenção que vcs estejam dando ao que estou escrevendo, ou isso está parecendo confuso ou óbvio demais. Mas na verdade é a galinha dos ovos de ouro dos estudos cognitivos, da linguística e também do autoconhecimento. Saber que as nossas palavras, e portanto, o nosso pensamento, têm suas bases em emoções e não em verdades racionais subjacentes apreendidas por nossos cérebros sangrentos e de cor desagradável, é de um bom gosto considerável (os parâmetros desse bom gosto são, como tudo o mais, discutíveis, é claro). Saber que toda aquela racionalidade do discurso de não sei quem pra convencer os amigos de que o país tal tem razão na questão tal, se modifica com alguns ml de álcool circulando na corrente sanguínea, é de uma perspicácia louvável. Se eu, modificando o cérebro, modifico as ideias, onde está essa fonte pura da realidade real? Se consigo transformar o deprimido chato, porém artista das letras, num ser humano funcional e feliz ao administrar-lhe alguns neurotransmissores em forma de pílulas anti-depressivas, onde está a essência, a alma imortal...? Taque um pau na cabeça de alguém no lugar certo e a essência individual se dilui em um monte qualidades novas que vão formar uma personalidade completamente diferente...

Eu dizia que as palavras... e aqui eu menciono um trecho da bíblia, "a boca fala do que o coração está cheio". Pois muito bem. As pessoas sabem que palavras são facas, ou gilettes, ou pedras, ou baladeiras, segundo se saiba usá-las. E pessoas... pessoas são corpos querendo continuar a viver. E às vezes viver dá trabalho e stressa - os corpos cansam, se entendiam, se enraivecem. A boca de um corpo enraivecido vomita palavras, ideias, etc, tão raivosas quanto está o coração banhado de adrenalina. Deuses e satélites vendo de cima, veem ratinhos humanos em labirintos mordendo os outros porque levaram um choque na alavanca da comida...

Um dia desses tentaram me morder. Até que incomodou (a mordida era pequena mas a saliva era cheia de veneno). Mas eu, sem querer dar uma de buda - porque ainda estou longe disso - , acho que encontrei um buraco na parede do labirinto... E o ratinho agressor em questão essa hora deve estar se mordendo, se envenenando numa curva do labirinto por aí...

Quem entendeu dê um guincho.

:) 


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