quarta-feira, 19 de outubro de 2011

The Pink Fire ou Adoro Séries Americanas



"Yeah. Eu estava andando na rua, meio sem saber o que fazer, pensando, refletindo, matutando sobre a próxima série americana de sucesso. O que eu fiz? Fui dar uma olhada nas pesquisas de opinião sobre assuntos diversos, nos fóruns de internet sobre as séries e filmes atuais atuais, li jornais, passei horas no Facebook, vi e revi episódios das séries mais bombantes do momento. Todo os dias tinha uma ideia que parecia ser o enredo, a trama genial dos próximos 6 ou 12 meses: um sarcástico anão de chapéu coco rosa que sofre de bulimia e sonha realizar a cirurgia de mudança e sexo; ou duas irmãs siamesas que publicam seus conflitos cotidianos numa rede social decadente brasileira e acabam conhecendo seus futuros maridos na internet; ou ainda um travesti de família, de cabelo ruivo que luta pelos direitos dos animais, e que por isso arruma muita confusão com uma turma do barulho...

Com essas ideias na cabeça, tentei dormir e esperei a reunião com os gigantes da TV no dia seguinte. Na ocasião, ouviram minhas novas ideias abalantes com paciência e interesse comedido, e tive que receber em troca sermões sobre direitos humanos, moda, clichê, apelação, números, politicamente correto ou não, tendências, psicologia, e uma série de coisas (ou nem todas essas) que no fim serviram apenas pra dizer que o telespectador atual, segundo as tendências reveladas pelas últimas consultas midiáticas, estaria mais receptivo à série The Pink Fire, a minha série sobre to travesti ruivo. Embora eu pessoalmente preferisse as donas de casa siamesas por causa das questões feministas e etc, topei e com um esboço de cinco linhas de The Pink Fire no bolso fui em busca de um smart guy escritor, um cara frustrado com muito talento, ou um cara sem talento nenhum mas que falasse a linguagem do business da mídia, ou um grupo de 30 macacos epilépticos com vários iPads à disposição.

Encontrei o cara certo, Gene Busilis, que estava saindo agora da reabilitação e estava sedento por dinheiro - além de ter quase ganhado vários prêmios de literatura e poesia num passado de quando tinha cabelo. Gostou muito da minha história e disse que com toda essa coisa de direito gay e moda e etc seria fácil escrever vários episódios pra série. Ele mesmo por acaso, mas só por acaso, tinha um amigo travesti e poderia usá-lo como laboratório - inclusive ele vivia uns dramas muito úteis... Eu o interrompi dizendo "whatever" e pedi que ele me adiantasse o piloto e mais uns dois episódios - ele disse "moleza" e se foi, cheirando a whisky.

Se vcs forem fãs de séries americanas, nem precisarei dizer que o primério episódio de The Pink Fire, que tem na trilha sonora Led Zeppelin, Nirvana e Pink, e que mostra com incrível doçura e sensibilidade o momento exato em que Donald Skyler em lágrimas confessa a seu beagle Junior que sempre quis ser Scarlet, foi um sucesso de público e crítica - aparecendo até em primeiro lugar no twitter por horas!

Tenho muito orgulho desse trabalho ao lado de Busilis (o nome fica bem na tela, escrito em caracteres que se desfazem em chamas rosas no início de cada episódio) porque acho que ele toca nos corações das pessoas por ser sincero e falar de desafio e amor e..."


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Melancholia

Melancolia... do grego: deprê, do paraibano, borocochô... também é o título do último filme daquele diretor de nome jedi, o mesmo que disse que entendia Hitler. (Posso até ouvir os pensamentos "Ai como ele é chato! O Lars von Trier é um grande diretor, um dos melhores das últimas décadas, etc e tal - o fato de ele ter se tornado persona non grata em Cannes foi uma infelicidade..." - aham Cláudia... )

O que se esperar de um filme com um nome e um diretor desse? Antes de qualquer coisa, sinto do fundo do meu coração que devo dizer que não sou crítico de cinema e nem pretendo ser. Sou apenas um espectador que vê coisas e que inevitavelmente as comenta - e antes de um belo e estúpido "Guarde pra si..." eu adianto um "Saia daqui". 

Já imunizado então:

O filme se arrasta. Tanto quanto Dançando no escuro, que mesmo tendo Bjork no elenco, é de uma chatice, Jesus amado, emocionante... Gostei de Manderlay - mas porque será que Lars von Trier sorrindo a Hitler não me soou tão estranho enquanto via esse filme...? Mistura de drama com ficção científica, Melancholia foi feito pra isso mesmo: convidar vc a um mundo que desmorona e em breve se destruirá como único caminho e solução possíveis (e daí se parafraseio?). Das duas partes, Justine e Claire, a primeira é de longe a mais insuportável - sendo que a segunda, por girar em torno de Claire e por conseguinte, em seu medo de ver a vida na Terra destruída pelo doido planeta Melancholia, surgido do nada de de trás do sol...(jura mesmo? de verdade?) tem mais a ver com não querer morrer - nessa parte também há mais "ficção científica". Tudo bem, a ideia de que há sabedoria no luto da morte da própria vontade de viver me é simpática - mas a maneira cansativa com que Lars von Trier diz isso não me é. Juro que um dia vou saber dizer exatamente o que eu quero dizer, mas há um "Cara, eu sou foda" em forma de perfume em todo o filme: no inesperado, no óbvio, no que é pessoal do diretor, até no que é realmente bom (as cenas ultralentas no início e o depauperamento de Justine na segunda parte) há esse cheiro - como alguém que exagerou na dose de perfume, ou que usa o mesmo há muito tempo...

A impressão que eu tenho é que Melancholia é uma múmia do Egito que se na verdade não fosse do Egito seria só uma falsificação bem feita.

Enfin...

Veria de novo?

Veria.

domingo, 9 de outubro de 2011

Lumière

 Este é o sol,
Este é o mar,
Este é o eu,
E o eu é isto.

O cima, o baixo,
O dentro e o fora,
Tudo resumido num árduo esquema
De querer saber;
Mas entender
É outra história
Que não é esta,
Nem isto,
Nem eu.

Porque o momento é aqui.
Em que tudo é tão límpido e claro
Que transluz...
(Abriu-se o véu)
Mas do outro lado
Não há nada que não seja
O este,
O isto
O eu
E o aqui.
Assim.
E apenas assim.
Ofensiva e alegremente assim.