sábado, 9 de abril de 2016

Esses dias eu vi... Batman vs Superman

Primeiro, que qualquer coisa que envolva briga de grandes nomes de super heróis, sobretudo aqueles que marcaram a sua infância, soa um tanto apelativo e chocante, sim, soa... Confesso que, como não-leitor de HQs, quando soube de um filme com esse título, minha primeira reação foi me perguntar: “Por que diabo esses dois brigariam?!” As razões apontadas pelo trailer vieram - e, sinceramente, me pareceram de fracas a ridículas... Mas como o trailer não é o filme, esperei pela história toda e o resultado foi... ok. 



O aviso de que não seja, nem tenha sido, leitor de HQs serve para explicar minha ignorância sobre o fato de Batman vs Superman ser a costura de várias histórias em uma só, envolvendo os protagonistas, a Mulher Maravilha e, claro, o início da Liga da Justiça. Deixando de lado os aspectos esotéricos dos fãs e dos entendidos das histórias precursoras do filme, farei apenas uma análise impressionista, de leigo mesmo, da coisa toda:

Motivo da briga: Batman, apenas chocado e passado na manteiga com a destruição causada pelas brigas de rua do vândalo Superman, decide que o da capa vermelha merece uns cascudos por matar pessoas ao desarrumar a casa em suas estripulias. Junte-se a isso o fato de Bruce Wayne já ser um riquinho chatinho perturbado da cabeça – que, no fundo, no fundo, padece de uma grande inveja dos poderes do alienígena de Krypton, que pode matá-lo brincando... De fato, convenhamos, talvez seja muita coisa pra digerir, sobretudo pra um ser humano acostumado a ter tudo e pagar caro pelas bugigangas hi-tech: ver um cara mais bonito, mais tudo, sambar e conquistar mais prestígio do que uma pessoa vestida de morcego...

Conflitos psicológicos internos à parte, e falando um pouco mais sério, no filme, mais que no trailer, e apelando pra uma sensibilidade maior ao drama da vida, ao som de violinos, você até que engole o motivo da briga entre os super-herois – ok, fight (se bem que, procurar o outro pra conversar, pra conhecer seus dramas, entender que a destruição foi justamente pra salvar o mundo [e não apenas uma cidade suja...], não rolou né?... ok)... Os preparativos para o início da parte boa do filme, a destruição, envolve a apresentação de um Lex Lutor pirado... e CHATO, umas cenas lentas e desnecessárias, enfim, um enchimento de linguiça clássico. Então vem a quebradeira – que não é tão boa assim na verdade; e, então, a parte em que os inimigos da escola de ensino fundamental se tornam, do nada, best friends forever... Não vou dar o núcleo do spoiler já dado, por vergonha alheia. Enfim. Chega-se a um fim trágico, porém não surpreendente. O mundo tem salvação – habemus Mulher Maravilha, ê! – mas vai ser complicado e “não perca os próximos episódios”. Entusiastas adolescentes esboçam aplausos, mas a audiência toda na sala sai em geral em silêncio. Mas os críticos profissionais, não.

Não sei quem foi que disse que “o papel dos críticos é criticar”. Pois procuraram coisas criticáveis e, de fato, as há demais nesse filme. Porém, a maior parte das críticas são pesadas demais, e chegam a ser injustas. Chegaram a chamar de fiasco... Não, não é um filme ruim e não é um fiasco. Só por não ser O FILME, Batman vs Superman não pode ser classificado como fiasco. Se a proposta era ser um retalho de grife de histórias prévias que servirá de base pra outras histórias, talvez mais interessantes, parece que cumpriu seu papel. 

O século XXI é um século de cansaço e exaustão da criatividade. Não sou eu quem digo – entendidos teóricos da literatura, do cinema e de praticamente todas as artes dizem isso. Na verdade, é história batida, pelo menos desde o fim do Império Romano – isso no Ocidente, porque se falarmos de China e Índia... A questão é, pra inovar (cabem aspas aí...), até Hollywood tem que se virar, e parece que a bola da vez é a desconstrução da figura do herói – isto é, fazer a caveira dos bonitões fortões bonzinhos. E, de quebra, incluir nessa desconstrução, reflexões filosófico-religiosas light ou pesadas mesmo. É bom lembrar que esse tipo de discussão já acontece em outros tipos de filmes e livros há muito tempo – quase desde sempre. Mas lembremos também que estamos falando de Hollywood, de povão, de mainstream. Chamar Super Man de deus, ou apresentar ao público a dissecação do sentimento religioso, dizendo que a religião é um tipo de subterfúgio do ser humano diante da realidade – talvez não pareça conversa muito simpática a muita gente. E é isso que se vê em Batman vs Superman. Porém, a desconstrução é o que mais chama a atenção: o superman nada mais é do que um alienígena deslocado, que não consegue se adaptar ao planeta, nem sabe muito bem o que quer, tem ataques de grandeza e um narcisismo mal disfarçado. No filme, vemos que ele não é tão bonzinho assim, e mesmo o fato de ser bonzinho, simpaticozinho, não faz dele um santo, já que num planeta de 7 bilhões de homo sapiens, salvar o gato preso na árvore pode ter nenhuma utilidade prática diante de ataques terroristas suicidas em algum lugar perdido do mundo.

O Batman, já sabemos que é um desequilibrado. Encarna, na verdade, o arrogante de classe média alta que luta contra o mal de forma meio paranoica – é como se acabar com o crime fosse mais um show de travesti querendo abalar, do que algo necessário para o bom funcionamento da sociedade – nem é preciso questionar aqui sobre quantos homens mascarados e/ou de capa seriam necessários para lutar, de fato, contra o “mal”... E essas últimas aspas se tornam sintomáticas se pensarmos no público assistindo à briga entre dois heróis cuja integridade e caráter são duvidosos: o que é o Bem? O que é o Mal? Cadê aquele meu herói bonito, bom e barato, sacrossanto, puro, legal, equilibrado? O gato comeu?

Super heróis são projeções de angústias e esperanças nossas. Quem não queria que o superman fosse seu pai (ou vice-versa) durante a infância? Um povo quer ser cuidado por um herói assim como a criança quer ser cuidada pelo pai – toda segurança, coragem, solução de problemas emanando apenas de um ser super poderoso, invencível. Aí, vira e mexe, pá: você descobre que aquela pessoa perfeita não é tão perfeita assim, e que a projeção dos seus sonhos e anseios pode ser interrompida – porque a tela que você encontrou (o namorado, o pai, a mãe, o amigo) não corresponde exatamente aos parâmetros de tamanho, largura e cor minimamente adequados pra uma boa ilusão...

Não sei – por um lado, acho que as críticas pesadas e injustas a Batman vs Superman vêm, de um lado, de uma rejeição, por parte dos críticos, desse flerte com Lars von Trier, ao refletir cinicamente (mesmo que de passagem) sobre religião, e política também; e, de uma cara de enjoo, por parte do público, diante da lama moral que é jogada na figura dos heróis, que, pra muita gente, e ouso dizer que para a maioria, deveria ser pura e imaculada, já que se vai ao cinema pra se divertir, comer pipoca, namorar, e não pra se refletir sobre a vida, sobre a natureza humana, e, pior ainda, sobre a natureza divina... (Beyoncé que o diga: críticos criticando: "Pra que ela vai falar de racismo e violência policial nas músicas dela se tudo o que nós queremos é bater cabelo e descer até o chão? Petralha! [adaptado]").


Veria de novo? Sim. No cinema? Não – não vale um segundo ingresso. Mas é um filme ok. Vão lá. Vale à pena. Talvez não em 3D... Whatever. 

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