quinta-feira, 30 de junho de 2016

Bergier: conspirações, controle mental e ciência

Sob a expressão “teoria da conspiração”, escondem-se, penso eu, conjuntos de ideias, informações ou crenças que são injusta e inadequadamente postas num mesmo saco, tão variada e diferente são as naturezas desses conhecimentos ou teorias. Não fui atrás de definições no dicionário, mas o que se conhece como “teoria da conspiração” parece ter que ser, primeiro, uma teoria - dâ! - e apontar algum organizações ou figuras que atuam debaixo dos panos sob algum tipo de motivação ou intuito obscuro e oculto e que não deve ser compartilhado com as massas.

Ok – pois nessas caminhadas bibliográficas, dei de cara com um cara que pode ser chamado de máster ou deus das teorias da conspiração: Jacques Bergier. Ele é polonês, mas morou na França e adotou o nome francês cedo. Entre as profissões que exerceu estão a de engenheiro, jornalista, espião e... ocultista. Ele é uma daquelas figuras exóticas, incríveis, instigantes e inspiradoras que combinam, num mesmo cérebro, numa mesma personalidade, caraterísticas que são, a princípio contraditórias, pelo menos aparentemente.

Pelo que consta, ele aos dois anos já lia e escrevia. Era um gênio. Tinha memória fotográfica e foi quase inevitável se tornar um homem de ciência, e não qualquer um: realizou trabalho importante relacionado ao funcionamento de mecanismos que até hoje são utilizados em toda usina nuclear. Conheceu pessoalmente, e trocou figurinhas, com Arthur C. Clarke (deus da ficção científica) e H.P.Lovecraft (deus dos livros de fantasia de ficção científica, ou vive-versa) e se diz que foi ele quem deu a ideia pro personagem de James Bond – o que não é de se duvidar depois da leitura de seus livros...

Os Livros Malditos foi um livro que baixei – no melhor estilo pirataria cínica – sem saber do que se tratava; o título é legal e a sinopse interessante. Logo de início, nos primeiros parágrafos, você não entende bem o que está lendo: isso é ficção ou é pesquisa científica ou pseudocientífica?

Como o próprio título do livro indica, Bergier fez uma pequena lista de alguns livros que ele chama de malditos, a fim de explicar porque eles o são: e a solução é ótima: porque todos eles contêm conhecimentos profundos e revolucionários que, se fossem tornados públicos, poderiam levar a humanidade à autodestruição; por essa razão, uma associação chamada Homens de Preto (isso mesmo!) foi criada para cuidar de evitar, do jeito que for necessário, que esse conhecimento caia em mãos erradas.

Gostou do enredo? Mas lembrando: estamos falando de um homem de ciência, sóbrio, ser humano efetivo e eficaz, que, ao mesmo tempo, fala de alquimia, espelhos que servem de comunicação com extraterrestres, armas de destruição em massa a distância... tudo isso como se fosse factível e perfeitamente possível.

Jacquer Bergier é incrível. Ele é um daqueles personagens que parecem ter saído de um conto do Jorge Luis Borges: pessoas que no seu quotidiano encaram o invisível e o fantástico como elementos integrantes da realidade; pessoas que, apesar de conduzirem uma vida pautada na lógica científica, por isso mesmo, decidem ser corajosos e enfrentar aquela série de fatos e acontecimentos estranhos que, mesmo hoje, nesses dias de fotos e vídeos ubíquos, vivem acontecendo... Parece que o mantra de Bergier, assim como o de Jorge Luis Borges, é uma hiperbolização daquele dizer super clichê: “existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia” – Bergier, como homem de ciência, substitui, de forma bem clara e didática, filosofia por ciência.

Porém ele não é um idiota como Daniel Däniken, que falsificou dados, intepretações e inventou mentiras pra provar que alienígenas são responsáveis por tudo (o que sobrevive ainda nos programas histéricos e engraçados do HIstory Channel). Ele é como se fosse o primo mais equilibrado do autor de Eram os deuses astronautas, ou, como disse um prefacista, acho, dele, que Bergier é o parente distante meio louco que anima a festa de família, mas com quem ninguém quer muito contato.

Pra quem viu Arquivo X, é fã do Snowden (o que não quer dizer não ser seu crítico) e pensa bem antes de digitar qualquer coisa na barra de busca do Google (por medo de que uma palavra como “hemorroida” seja associada ao perfil secreto que a empresa comprovadamente guarda sobre cada um dos seres conectados deste planeta), Bergier não diz nada de muito novo. É a forma clara, aberta, convicta e ao mesmo tempo cuidadosa, mas vigorosa, com que ele diz que hipnotiza, e faz os amantes  (não crentes...) das teorias da conspiração, just like me, sentirem seus corações baterem forte.

Só pra dar um gostinho: impossível não pensar que a ideia toda do filme Homens de Preto surgiu a partir da leitura dos escritos de Jacques Bergier.

"Parece fantástico imaginar que existe uma Santa Aliança contra o saber, uma Organização para fazer desaparecer certos segredos. Entretanto, tal hipótese não é mais fantástica do que a da grande conspiração nazista. É que, somente agora, nos apercebemos até que ponto era perfeita a Ordem Negra, até que ponto os seus afiliados eram numerosos em todos os Países do mundo, e até que ponto essa conspiração estava próxima do êxito. É por isso que não podemos rejeitar, a priori, a hipótese de uma conspiração mais antiga.

[...]

Encontram-se traços dessa conspiração, tanto na História da China ou da Índia, quanto na do Ocidente. Dessa forma, pareceu-nos necessário reunir toda informação possível sobre certos livros malditos e sobre os seus adversários".


Pra quem quer uma leitura estimulante e diferente de tudo o que você já viu, taí uma sugestão. Muito interessante que ele conta histórias como quem conta uma novela com intrigas, traições e mortes, e ainda fornece vários nomes e datas – a maioria, se verificado na Wikipédia, bate em tudo com as informações que o autor nos dá, o que dá um ar de veracidade (que chega a ser inquietante) ao que ele diz, mesmo que se trate de um livro que tenha o poder de controlar mentes a milhares de quilômetros de distância...


Mas lembrando, ele não é um doido varrido. Livros Malditos é só um dos livros de Jacques Bergier. Em um outro, o tema é o império do petróleo... Escrito no final da década de 70, ele parece descrever tudo o que está acontecendo atualmente, no sentido de guerras e conflitos relacionados ao sangue negro...



Enfim, leiam.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Happy/ Unhappy end

Escolha a alternativa correta:

1
Dois egos se encontram, se tocam, se roçam,
Se colam, se falam, se trocam,
Se cheiram, se lambem, se mordem,
Se adoçam, se bolam, se comem,
Se amarram, se querem, se jogam: se fundem.


2
Dois egos se encontram, se tocam, se roçam,
Se colam, se falam, se trocam,
Se cheiram, se lambem, se mordem,
Se adoçam, se bolam, se comem,
Se amarram, se querem, se jogam: se fodem.

Awake - Ainda sobre sonhos

O embate realidade versus sonho está muito mais presente no nosso refletir do dia a dia do que pensamos. Se, por realidade, temos esse conjunto de atividades mentais e físicas que englobam desde tirar a primeira remela do olho, passando por lavar um prato, pagar uma conta, executar uma tarefa repetitiva e soltar um peido antes de dormir; e por sonho tudo aquilo que de alguma forma não seja tudo isso, ao pensarmos só um pouquinho, podemos ver que a coisa é um pouco mais complicada que isso. Quase sempre é.

Já disse em algum outro texto meu nesse blog que pensar muito nesse tipo de coisa pode levar a um estado de loop filosófico infinito e improdutivo que chamamos de loucura. O que mais uma vez me levou a esse tema, foi a descoberta de um seriado interessantíssimo chamado Awake, que pode ser encontrado no Netflix. Um detetive, depois de um acidente de carro em que estavam sua esposa e seu filho, toda vez que dorme, acorda numa outra realidade em que quem morreu foi sua esposa; e quando dorme nessa realidade, quem morreu foi seu filho. Ou seja, uma realidade é o sonho da outra.
Isso por si só é uma grande sacada do autor – a série tem seus defeitos: a parte filosófica ou reflexiva da condição desse detetive pai de família é muito pouco explorada... mas talvez por isso mesmo a série não fique chata, como estou ficando agora.


A questão é: pelo fato de viver uma realidade paralela em seu sonho (ou um sonho realista em sua realidade...), com direito a leis da física invioladas e pessoas e fatos correspondendo ao que pode ser considerado real, o detetive simplesmente não pode afirmar qual dos dois mundo entre os quais transita é real. A vertigem na cabeça de quem assiste é óbvia, e as investigações, os sustos e as aventuras em cada episódio conquistam e instigam: “se fosse eu...”. A crueldade das circunstâncias também inspiram e fazem sonhar: viver numa vida com a esposa que na outra realidade morreu; viver na outra vida com o filho que numa existência não existe mais... quem não queria uma chance dessa, por mais que isso pareça loucura – loucura mesmo, desequilíbrio mental no estilo “pega o doido!”.


Humberto Maturana diz que não existe prova absoluta que apoie a existência de uma realidade em detrimento de outras – mesmo o sonho ou as fantasias de um esquizofrênico, ou os delírios de uma pessoa febril ou drogada, só são classificadas como "loucura" por referência a outro estado, o qual convencionamos chamar de “realidade”. Fora dessa referência estatística (sim, pois lembremos que já vivemos, pois a maioria acreditava nisso, numa Terra plana habitadas por demônios... Aliás, estes ainda vivem por aí, segundo número considerável de pessoas....), que também é cíclica, não se pode afirmar nada de nariz empinado, arrogantemente como donos da verdade. Isto é, ninguém tem acesso privilegiado a uma realidade absoluta.

Então quer dizer agora vamos todos sair sambando por aí vestidos de bailarina, peruca rosa na cabeça, gritando e sendo feliz como se não houvesse amanhã? A não ser que estejamos no carnaval de 2016 (em que uma certa pessoa realmente fez isso), não, não é o caso. O objetivo de filmes como Matrix e Abre los ojos (Vanilla Sky em Hollywood), ou de seriados como Awake, não é convencer as pessoas de que não existe nada, e que o mundo é um caos sem sentido e podemos fazer tudo o que quisermos (no mau sentido). Imagino que a ideia é meio que gritar: olha, se o mundo em que vivemos agora é uma bosta, deve ser porque ele não foi dado ou imposto por ninguém – se não existe Verdade ou Realidade com maiúscula, existem aquealas com minúscula, e estas são perfeitamente questionáveis, flexíveis, recriáveis e infinitamente cheias de possibilidades. E bote aí nesse saco de coisas questionáveis todas as pragas e mazelas atuais: o machismo, a destruição do meio ambiente, os vários tipos de intolerância, a ganância desenfreada do capitalismo, a violência absurda etc. As coisas não são pra ser assim – as coisas ESTÃO SENDO assim. A realidade é fruto das nossas ações em conjunto, desde o senhor que colhe material reciclável em sua carroça, até o executivo que quando está de mau humor causa a bancarrota de países periféricos da África ou da Ásia... #myOpinion

Essa verborragia acima são exemplos de reflexões que podem surgir depois de assistir a episódios de um seriado bem escrito, bem concebido, e quase tão bem executado – mas idiotamente cancelado por “ser complexo demais para o público americano” - como Awake. Whatever.


Esse é outro: “série massa. Vale à pena”.