sexta-feira, 29 de julho de 2011

South Park


South America, south hemisphere, South Park... E é bem debaixo mesmo que a coisa começa.

Dos Smurfs, passando por Cavalo de Fogo, He-Man, Ursinhos Carinhosos, Capitão Planeta, e enfim chegando a South Park, é óbvio que há um longo caminho. Não premio este último como objetivo de um percurso intelectual qualquer - apenas indico mais uma via possível nesse mundo cheio de portas largas do entretenimento fácil e meramente recarregador de baterias.

Nem lembro a primeira a vez que vi um episódio, mas lembro que de primeira não cheguei a me apaixonar pela escatologia animada que jogava nos meus peitos sangue, palavrões e críticas muito mais que pesadas a tudo e a todos - sobretudo a EUA, religião e moral... No entanto o amor que se seguiu era inevitável.

Como não gargalhar diante de personagens que visualmente são de uma simplicidade iconoclasta e expressões reduzidas ao básico mas que incontrolavelmente causam o riso por sua eloquência mais que cômica? Iconoclastia, aliás, pode ser a palavra que mais venha à cabeça depois de assistir analiticamente um ou dois episódios dessa série americana. No terceiro ou no quarto, se vc não for fundamentalista cristão ou muçulmano, nem um hipócrita de segundo ou terceiro nível, mas sobretudo, não for um autoanalisófobo, vc percebe que há algo lá no fundo, há um código sério que diz alguma coisa de bom e de positivo, escondido numa nuvem imensa de riso de escárnio, de cenas absurdas, de sarcasmo ácido e politicamente incorreto e até ofensivo.

Cada episódio é uma pérola de "olhe-se no espelho e veja que o mundo não é lindo como vc pensa, caro homem branco, ocidental, cristão e feliz". Como nesse, da décima primeira temporada, em que Cartman, Stan e Kyle descobrem, durante a Páscoa que São Pedro na verdade é um coelho, e que Jesus não ousaria colocar nas mãos de um homem apenas o destino de uma igreja ou de uma religião:

- Mas por que Jesus ia querer que
um coelho comandasse sua igreja?

- Porque Jesus sabia que nenhum homem
poderia falar por todos em uma religião.

Nesse mesmo episódio, por acaso, dirigentes da Igreja Católica, para impedir que tal segredo seja divulgado aos quatro ventos, ordenam a morte de Jesus Cristo, que do nada tinha ressuscitado para salvar os herois da série.

O episódio que mostra um Obama mancomunado com McCain, cujo objetivo era permitir a vitória do primeiro presidente negro dos EUA para que esse pudesse roubar uma joia caríssima chamada "esperança", à qual apenas o presidente tem acesso, também diz muito sobre o lado podre da política. 

Em outra situação, depois que Kyle se vê obrigado por seus amigos e conhecidos a criar seu perfil no Facebook, o stress de manter e administrar os contatos na rede e o equilíbrio superficial de suas relações com os amigos de verdade o cansa, e ele decide abandonar o Facebook. Mas sua conta tomou vida própria, e o impede de cometer seu facebookcídio, exceto se o garoto entrar no mundo digital no melhor estilo Tron e lutar contra os outros "profiles"...

Claro que não vou continuar a pagar o mico de ficar contando o enredo dos episódios dessa série que mais que pensar, faz pensar com muito, mas muito humor. 

Depois de um certo tempo de piadas sem graça na arte e na vida, a dose tem que ser pesada pra fazer vc abrir uma gargalhada gostosa e incontrolável, do tipo epilética, daquelas que se abriam com os amigos no meio de uma aula da faculdade, vc se passando por idiota... 

Para pessoas com senso crítico, habituadas a House ou Simpsons, conhecedores parciais de Onfray ou Voltaire, porque não, aconselho uma visita a South Park. Para os que querem ser ishpertos e legais, CQC basta.

A mosca já tem... a b*sta também.

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