Uma parte dos seres humanos, que cresce a cada dia (feliz ou infelizmente é uma questão mais estética do que outra coisa), está permanente conectada. Aparelhos que há dez anos serviam ou mal serviam pra falar, hoje guardam pedaços de biografias inteiras. O que esses humanos vêem ou falam ou escrevem viajam em segundos por entre os pontos do globo como numa rede de neon, rápida, densa, pulsante...
Quem diz imagens e textos e vozes transitando permanentemente de um lado pro outro diz emoções e idéias. Idéias que antes fermentavam e cresciam pra virarem alguma coisa no fim, hoje assim que surgem se lançam no universo conectado de todos e... estouram, como nada. É como um grito numa manada de animais, como uma reação em cadeia que só a bomba atômica ilustraria de maneira suficiente...
O dito sem sentido que numa sala de amigos se desfaria em segundos, agora perdura por dias e talvez semanas em mundos cuja existência é tão sutil quanto a corrente elétrica: uma bolha de sabão refletida num espelho infinito até o enjôo... Bolhas de frases, de palavras, de emoções que se reproduzem como vírus – criando uma doença em minutos... e em minutos se desfazendo e nonsense.
Uma semana atrás equivale há dez anos de atraso se comparados ao esquema temporal de há meio século. O que se disse ontem pode parecer tão antiquado quanto o que se ouviu na década passada.
O vestido dela de ontem – bolha. A frase no topo de ontem: bolha. O vídeo de sábado: bolha. A piada do dia: bolha.
É como se disséssemos espuma, ouvíssemos espuma, pensássemos espuma: idéias, emoções, falas leves e passageiras ao extremo, renováveis indefinidamente. Não com uma onda no mar – esta tem uma estrutura que se repete e dura, nem que seja pouco, mas plástica, é identificável. A minha teoria é que a nossa linguagem hoje é de espuma – como a espuma do mar (falamos como nunca falamos antes, mas dizemos tão pouco como nunca conseguimos antes) É pura superfície e puro não-ser, puro quase-nada. Desmancha nas mãos se vc tentar pegar, não fica na memória, porque não é...
É fugidio e fugaz e fraco... intangível.
É fugidio e fugaz e fraco... intangível.
Os princípios da teoria da espuma são:
- Sou um agora e outro amanhã; qualquer um talvez e vários provavelmente sempre;
- O que digo não tem valor se não for ouvido por mais de dez pessoas ao mesmo tempo, nem que seja por vinte ouvidos surdos;
- A imagem de bytes não marca – é um mero rastro de um momento evanescente e que muitas vezes... não tem importância;
- Me olho na tela do computador como num espelho pra ter certeza de que existo;
- No fundo eu sei que sou espuma nesse mar sem sentido – mas essa idéia também é bolha e...
- ...já estourou.