domingo, 20 de fevereiro de 2011

Hey girl, hey boy

Uma mesa na penumbra a céu aberto, pessoas desconhecidas mas simpáticas e certas quantidades de CH3 CH2OH em suas diferentes variedades, podem ser a base da origem de agradáveis sensações e interações que resultem em sorrisos, leveza e bem-estar... 

Ou não.

A batida e o perfume e o ritmo quase coincidindo com o do beat do coração e a melodia repetida casando em hipnose com os pensamentos, e a noite cortada ao meio pelo laser que também dança, podem ser sinfonia cacofônica pra comemorar o mero fato de existir e saber disso gostando.

Ou não...

O sábado, sobretudo em seu fim, pode ser um dia, uma era, um mundo e um ato de ser. Integrar um grupo que flui na noite ao som de risos e corpos e vontades - sem que as horas pesem - pode ser minutos de eternidade que bastam por instantes semi-completos. 

Or not!

Domingo nublado deveria ser o dia do descanso de quem criou um mundo de caos em uma noite para restituir-se o de ordem na segunda, com prazer. E parece que não é...

Será que essas palavras são um modo meio longo de se dizer "bem-feito!" a respeito do resultado emocional indesejado causado pela reincidência de interações não-produtivas e suas consequências desagradáveis?


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Cisne Negro


Torna-te aquilo que és.

Ontem vi o Cisne Negro e a cara da Nathalie Portman, que passa do doce amável encantador para o trágico coitado desalentador em questão de microssegundos me sugou um pouco as forças. Mas no fim mas devolveu (desculpem pela contração antiquada...) em forma de alguma coisa que não era exatamente boa... mas produtiva.

"Nina é todos nós" é muito clichê, então começo com o seguinte: é plenamente aceitável e até desejável em nossa sociedade atual que queiramos nos tornar mais do que podemos espontaneamente ser. O trabalho, a família, a academia, etc, exige isso de nós - o que vai ser bom ou ruim de acordo com o contexto - tudo é bom ou ruim de acordo com o contexto na verdade. (a redescoberta do óbvio é o meu TOC).

No entanto, o Caminho das Coisas, a Vida, o Destino ou o C*r*l** de asa (tudo isso são sinônimos) em geral nos dirige a algum ponto que sob a maioria das análises seria considerado inevitável. Por exemplo, eu não poderia ser padeiro - se o fosse as pessoas comeriam pão sem muito gosto; não poderia ser padre, as pessoas sairiam da Igreja desconfiadas do azul do céu, ... enfim. Parece que existe para cada ser humano uma zona sombria, mais ou menos inatingível, que é sensato não procurar descobrir o que é - mesmo que a própria vida de vez em quando o sugira tacitamente...

O poder de uma mãe controlodora não pode nunca ser subestimado. Os sussurros ofídicos de certos amigos devem encontrar seu caminho de saída do outro lado dos canais auditivos... Não utilize moedas escusas na compra dos sonhos... Conselhos e avisos que você só falta gritar para a Nina durante o filme todo - mas como ela poderia ouvi-los cercada por aquela muralha de ursos e bichos de pelúcia, vigiada pela mãe enquanto dorme, sufocada por ela a ponto de se coçar até se ferir...?

Nos contos de Borges não existem vítimas nem culpados. As histórias são contadas de forma a se ter a impressão de que as coisas simplesmente se realizam e acontecem. Aceitar isso exige um sangue-frio - na verdade exige uma boa dose de sangue quente e frio que nos faça capazes de viver sem chorar nem rir demais diante das coisas, dos acontecimentos da vida. A história de Nina é uma história de inevitabilidade. E de muitas outras coisas: do lado negro e sujo da arte; da confusão que a hipertrofia dos desejos pode causar; de como a insensibilidade pode cegar as pessoas; de como querer ser o que não é pode às vezes destruir alguém.

As cenas são fortes, o entrejogo de emoções arrebata vc do começo ao fim e a perfeição desse processo tem um certo custo em bem-estar ao espectador no fim do espetáculo.

Torna-te quem és é a frase de efeito adolescente e pós-adolescente mais grave e séria da existência de um ser humano. Nina tinha nascido para ser o Cisne Branco - mas como ela poderia ter certeza disso sem ter tentado ser o Negro? 

Inevitavelmente Nietzsche custa caro para algumas pessoas.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Desconexões


Lendo sobre golfinhos ontem, soube que a reprodução em cativeiro desses animais inteligentíssimos e simpáticos é muito rara, e que a única maneira de se conseguir um golfinho (pros shows à la Flipper, ou pesquisas e estudos cientificos) é "pescando-os", ou seja, extraindo um coitado golfinho do seu ambiente natural - o que aparentemente não é um grande problema, já que eles são das poucas espécies que em inúmeras ocasiões decidem espontaneamente viver entre humanos - cita-se casos até de golfinhos embaixadores, que de vez em quando, e regularmente, deixam seu grupo de congêneres para se aproximar dos macacos inteligentes que adoram brincar na água.

Mas também vi que muitos morrem ao serem aprisionados nos tanques humanos. O que de fato não é próprio apenas dos golfinhos. Praticamente todo ser vivo que quando extraído do convívio social ou familiar no qual se desenvolveu passa por crises que começam a nível fisiológico mesmo e atingem os níveis psicológicos e etc - e vice-versa - culminando não raras vezes com a morte... Seres humanos também são assim.

Ser um ser humano não é uma coisa simples. Não que eu diga que fugir de tubarões e de pescadores idiotas seja fácil, mas estar inserido numa rede tão grande e tão bagunçada (organizadamente caótica: paradoxo básico) de pessoas, coisas e animais, muitas vezes satura, enche o saco. No presente caso melancólico que introduzi com essa história de golfinhos, trata-se de... saudades.

No estado de disponibilidade para conexões que experimento nesse momento, entendo mais do que nunca as ideias metafísicas de conexão sobrenatural que vários povos antigos e pessoas idiotas atuais supõem existir entre seres humanos que compartilham longos trechos de genoma em comum. Mãe, pai, irmãos e irmãs, etc, parecem mesmo fazer parte de um tipo de ser meta-humano, um meta-indivíduo que se apresenta multi-partido em várias versões variáveis... Quero dizer que família é família. Há alguma coisa no sangue que fala alto e grita de vez em quando... E a desconexão às vezes causa instabilidade no sistema.


Eu olho pro mar e mixando meus conhecimentos de biologia (que adoro) com poesia e cibernética, não consigo parar de pensar na primeira "coisa" viva que deve ter ousado sair do mar, e ainda na primeira célula que nadou nas águas antiquíssimas. Que mar em francês seja uma palavra feminina e tenha a mesma pronúncia de "mãe" basta pra me fazer reverenciar "la Mer" e "la Mère" como uma coisa só e magnânima. Juntem a uma paisagem nebulosa de vermelho ou de azul profundo útero, calor, lembrança, e teremos os elementos de um poema melancólico e nostálgico que é melhor eu não ousar escrever.

Impossível não lembrar quase toda hora que sou em grande parte... mar - em francês.