domingo, 27 de março de 2011

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Esses dias, essas semanas, vi coisas. Dead movies... Sangrentos, dramáticos, barulhentos, emocionantes, sensíveis, dignos de Oscar, dignos de escarros... Vou falar um pouco dos que me lembro, aproveitando o clima deletério em que me encontro ainda por causa dos dois últimos que vi: VIP's e A Invasão do Mundo.

VIP's, com Wagner Moura. Esse nome nos faz esperar demais de um filme cuja história de fato promete: rapaz com capacidades fora do comum para fingir persegue um estranho sonho de se tornar piloto e acaba tendo que se passar por traficante, depois por mega-empresário milionário e enfim por presidiário líder de facção criminosa. Infelizmente, o filme não corresponde ao interesse que o roteiro desperta, e vc sai do cinema se dizendo no mínimo que não veria aquele filme outra vez. (Talvez não seja tão ruim assim, talvez seja a Invasão invadindo minha já deficiente capacidade crítica...) No entanto o filme exige digestão, no sentido de que algumas cenas com certeza vão causar discussões que terão como conclusão teorias interpretativas diversas. Os pequenos enigmas, que dizem respeito ao personagem principal do Wagner Moura e à mãe dele, porém, não anulam a frustração final... enfim.

Mas se o que se busca é a decepção total, ou melhor ainda, se o que se busca é uma aula prática do que é clichê, presunção de direção e exaustão de um subtipo de filmes, vejam A Invasão do Mundo.

Pra começo de conversa, o filme foi vendido nos trailers divulgados em todo o mundo como um filme de ficção científica do subtipo "guerra contra extraterrestres". Bem, não é. É um mero filmeco de guerra em que os alienígenas poderiam ser substituídos por guerrilheiros colombianos ou terroristas árabes - todos mudos, feios, sem graça e com tecnologias ridículas. Tratando-se pois de um mero filme de guerra, esperam-se meras cenas de dramas nacionalistas, meros rasgos de bravura,  momentos de dor, sede de vingança, meras lições de moral patriótica extraídas da situação adversa de guerra contra um inimigo impiedoso. É isso que temos em A Invasão? Sim, mas em doses cavalares... é como comer três pratos seguidos de frango cru... A música do tipo "esse momento é memorável e emocionante" soa durante quase todo o filme. Os dramas dos personagens parece que foram feitos por pessoas autistas ou adolescentes que ouvem Justin Bieber: o clichê é a regra. Os alienígenas... são os mais insólitos e improváveis que eu já vi em toda a minha vida de pessoa viciada em ficção científica. O argumento da invasão em si é fraco e batido. A sequencia de peripécias até a cena final é tão conhecida que dá vontade de chorar. São incontáveis os momentos em que a única resposta espontânea diante da presunção do diretor (sobretudo nas cenas "dramáticas") é o riso de escárnio ou de pena. Enfim, certamente é o segundo ou terceiro pior filme de ficção científica que vi na minha vida (empata com A Experiência e outro cujo nome não lembro).

127 horas vi faz mais de uma semana: frase que resume o filme: "Sou um cara fodão, escalo abismos e faço coisas iradas - mas sou meio insensível e não dou atenção as pessoas que merecem. Mas o destino f*** comigo e acabei me lascando numa das minhas aventuras com pedras, e depois de ter que arrancar meu braço pra sobreviver, hoje sou um homem feliz e completo". O filme é bom, baseado numa história real - mas não merecia o Oscar... (se bem que o que quer dizer um filme merecer um Oscar mesmo?)

Abre los ojos vi também há algumas semanas e gostei muito. Conhecer o enredo todo do filme (copiado em Vanilla Sky), de vez em quando conduz ao cansaço em alguns momentos, mas comparar a meneira ibérica e a anglo-saxônica hollywoodiana de ver as coisas torna a experiência interessante. Na minha opinião, o fato de Abre los ojos ser anterior a Matrix, e a uma série de outros filmes de sci-fi do subtipo "isso é sonho ou realidade ?", é um trunfo que eleva muito a avaliação da história, muito bem construída e instigante. Digno de repeteco, certamente.

A rede social: legal. O esperto e arrogante Mark Zuckerberg na visão do brasileiro que não gosta do Brasil Eduardo não sei das quantas. Conseguiram transformar a história de um nerd chato que criou uma rede social virtual que vai ser precursora de uma matrix (assim creio eu), numa história frenética de... de que mesmo? Sei lá, de como na situação certa, no momento certo e com as pessoas certas um idiota pode se tornar um nome que vai ficar escrito na história pra sempre - pelo menos até uma tempestade solar destruir a memória de todos os computadores do planeta.

A Fonte da Vida: filme já antigo (não é desse ano). Três histórias entrelaçadas, a da realidade do homem que luta para encontrar a cura do câncer que mata sua mulher aos poucos; a do romance que a mulher escrevia e deixou inacabado quando de sua morte; e a que se cria como uma interpretação místico-literária do cientista em busca da cura. Filme muito bom. Aconselho uso de lenços.

Robin Hood: deveria falar de um filme que não assisti até o fim por fadiga fílmica? Ok, pelo menos vou dizer o que me cansou: honra, coragem, releitura moderna de clássico, drama medieval. Haja paciência.

O turista: saiu do cinema já. Filme muito, mas muito, muito ruim, de um jeito que dói. É incrível como se pôde transformar dois bons atores, Johnny Depp e Angelina Jolie em dois bocós numa trama fatigante, implausível e chata. Argh.

Cisne Negro: já falei antes.

O discurso do rei: vale a pena porque mostra a família real inglesa a partir de um prisma mais humanizante. Dizem que o filme é cheio de erros históricos. Mas é bom sim. Direito de Amar, com o mesmo autor, é bem melhor.

Acho que é isso. Termino repetindo minha tese de que hoje em dia, e mais, mas infinita e desesperadoramente mais do que nunca, não se vê nada de novo. O que se vê são sequencias de histórias criadas 20, 30 ou 50 anos atrás, ou refilmagens de clássicos, ou releituras cínicas e cheias de clichê de obras antigas... Há uma saturação no ar, na música, no cinema... Quem tem quase trinta anos ou vira arqueólogo de ideias, em busca de descobrir o que ainda não conhece. Ou se conforma em sair deprimido do cinema, que está se tornando um bom lugar pra comer pipoca - e pra outras coisas mais...

Falou o leigo. 

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