domingo, 17 de abril de 2011

Sobre balas e doces coloridos envenenados


Família, moral, honra, Deus...

Num post anterior falei dessas palavrinhas mágicas (que na cabeça de muitos devem ter um brilho de ouro com detalhes em mármore - uma coisa assim...), e disse que se tratavam de bonbons coloridos envenenados dos quais pessoas inescrupulosas se utilizavam pra enganar ingênuos e/ou idiotas ocasionais ou crônicos.

E obviamente que repito o que disse, tomando dessa vez o cuidado de explicar que:

Família

Família não exclui os laços psicológicos e afetivos entre pessoas que não compartilham  trechos longos de DNA. É raro encontrar alguém hoje que sustente a ideia restrita de que mãe ou pai é aquele de cujo esperma ou óvulo vieram a receita pra cor do meu cabelo ou da minha pele. Como se diz, pai ou mãe é quem cria.

Além do que, creio que ninguém diria a uma criança que ela é uma pessoa deprimida e problemática, e que tem grandes probabilidades de se tornar uma viciada em drogas apenas porque foi criada pela avó ou pela tia ou pela madrinha. Da mesma forma que não poderia traçar o destino de uma criança só porque ela tem dois pais ou duas mães. Para saber dos riscos de uma criança se tornar louca ou problemática no futuro, consulte casais heterossexuais (que existem em número mais que suficiente para pesquisa) - sobretudo os pais de psicóticos, ladrões, assassinos, etc - cuja maior parte terá sido educada por... casais heterossexuais!

Não existe sociedade sem família. Um ser humano não se torna um ser humano funcional, legal, tranquilo e simpático sem uma estrutura na qual ele possa se desenvolver seguro e certo de que vai viver num mundo cheio de outras pessoas que o respeitarão e que por sua vez deverão ser respeitadas, para dar continuidade, da maneira menos dramática possível, a isso que chamamos sociedade.

Mas não existe sociedade sem mudanças. Todas as sociedades que não aceitam mudanças periódicas estruturais entram em colapso e desaparecem. Resumindo: o que está morrendo hoje não é a família; são vários outros tipos que estão surgindo - e se o objetivo da família é criar membros produtivos e felizes para uma sociedade (e não fazer pessoas como Bolsonaro e etc ficarem contentes dentro de seus uniformes militares), que venham as mudanças.



Moral...

A pessoa que mais indico para ser ouvida sobre o assunto é Nietzsche. Mas como esse nome suscita lembranças esparsas na maioria das pessoas, ou nenhuma em quase todas ("louco" ou "foda" não têm valor como apreciação filosófica), digamos apenas que moral diz respeito a como as pessoas atribuem à "natureza", ao "ser", comportamentos ou sentimentos ou emoções ou sensações que se construíram ao longo de anos ou décadas ou séculos, a partir de estruturas psicossociais impermanentes e instáveis; e claro, de como as pessoas se tornam escravas da cartilha em que figuram tais comportamentos, sentimentos, emoções e sensações, mesmo que um ou quase todos os seus mandamentos exijam a um número crescente de indivíduos, infelicidade e mal estar existencial completo e eterno.

Ou seja, moral é uma maneira de exigir dos outros que se faça algo simplesmente porque sempre se fez assim ("sempre" em geral é o "sempre" pobremente alcançado pelos conhecimentos de quem defende tal ou tal moral). Eu, pessoalmente, não aconselho que não se tenha nenhuma moral. Aconselho apenas a não nos tornarmos cretinos e algozes dos outros com o único fim defender o sentimento pessoal de bem-estar moral sem nem saber direito porque...

 Honra

Quando ouço essa palavra lembro de Rambo e dos samurais dos filmes da década de 80. Ainda não sei bem se entendo corretamente o que isso quer dizer, mas parece que é uma mistura de sentimento do ego que se defende, mais uma pitada de moral, com um pouco de bullying social light auto-inflingido... Enfim. Sei que quanto mais rígido forem os padrões de honra a que uma pessoa se submete, mais Kill Bill será a sua vida. A essa palavra meio misteriosa, eu prefiro a noção de respeito, que é  muito mais acessível à minha mente ligadinha no século XXI...

Deus

Essa é a balinha colorida mais venenosa de todas. Não preciso dizer que pessoas cínicas e estúpidas em todos os cantos do mundo e em todos os séculos se utilizaram do gosto humano por açúcar pra compelirem seus congênres humanos a se parecerem mais com hienas e lobos do que com qualquer coisa (a comparação aqui é meramente poética - hienas e lobos são seres admiráveis que se sentiriam ultrajados se soubessem a que tipo de seres humanos costumam ser comparados...). Uma guerra em que mulheres são estupradas e crianças mortas como coelhos se torna guerra santa se no fim alguém falsifique a assinatura de algum deus. Humilhação de membros da própria família se transformam em "pulso firme" se jurarem que quem disse para sermos tão firmes assim foi o próprio Deus... Violência verbal e física contra pessoas viram gestos de amor se um "em nome de Jesus" fecha a frase... Não continuo com os itens dessa lista de mal-gosto por respeito à sensibilidade dos que ainda não balançaram a cabeça lendo tudo isso. Mas não me proíbo de me surpreender, bradando: como pode ser tão fácil enganar tanta gente atribuindo a Deus ou a deuses o que homens sedentos de poder e sangue disseram há séculos milênios atrás? O fato de não nos vestirmos mais de pele de animais não quer dizer nada? Pqp!

É necessário dizer que o deus ou deuses em questão não têm nada a ver com o que fazem em nome deles? Jesus, que é uma pessoa que considero muito, ficaria chocado com o que certas pessoas fazem dizendo que foi ele quem mandou!

Dentes cariados

Bem, finalmemente, crianças, aconselho a prestarem mais atenção à sua dieta. Escovem os dentes sempre antes de dormir, prestem atenção à frase "amar ao próximo", ditas à noite em tom tão diferente de "vai se lascar viado!" de dia, por exemplo. E mais importante, não aceitem doces de estranhos... mas também não é porque aquele rosto conhecido te dá um sushi de baiacu que vcs vão aceitar sorrindo e dizendo amém... Sejam ixxxxxpertas! Beijinho, beijinho...

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