quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Avatar 2D em P&B mudo

Não passamos por um século de cinema incólumes. Nem o próprio cinema.

Em The Artist todas as aparentes e propositais lacunas são preenchidas pelo muito e pelo excesso de cores, sons, ângulos e histórias que engolimos ou nos engoliram na sala de cinema ao longo de tantas décadas e sobretudo das últimas. (HItchcock, Tarantino, Almodóvar, Cameron, Spielberg...) O olhar reflexivo do filme mostra primeira grande ruptura da sétima arte em sua história: o surgimento do cinema falado. Se por trás dos nossos óculos 3D mal conseguimos imaginar o que era se tacar numa sala  pra assistir filmes sem cores e sem som nenhum, The Artist parece que nos dá uma ideia da revolução que foi ouvir pela primeira vez o galã falar e a mocinha claramente sorrir em vez de terem seus lábios se movendo mudos, transcritos em letras trêmulas na tela.

E a ideia de 1929 parecer com 2011, 2008 ou 2012 se vê repetida no filme: um crash na bolsa, um cinema que morre pra outro que nasce, artistas que se veem obrigados a se adaptar a um novo modo de fazer e viver na tela grande.

Sem abandonar o hábito de ceder ao clichê: mesmo sem ser dita uma palavra, o filme é eloquente de um modo inesperado (indicações ao Oscar não foram à toa) - destaque para o sonoro "bang!" do final...

Eu não sei, mas além de interessante, acho que seria sintomático ver o Oscar de melhor filme sair para um filme mudo em preto e branco, não muito tempo depois de haver-se laureado incansável e mercadologicamente um monstro de duas horas e meia com suas cores e movimentos estonteantes em 3D... Sintomas de doença ou de cura?

Vamos fazer uma aposta que o cinema de 2030 vai ser ininteligível às nossas cabecinhas confusas de início de século XXI?
Vejam The Artist.

Nenhum comentário:

Postar um comentário