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sábado, 2 de março de 2013

Esses dias eu vi

"E para os amantes da sétima arte, nossas dicas de filmes para o fim de semana!" - argh.


João e Maria - caçadores de bruxas

Pegue um clássico da literatura, introduza na narrativa - já entortada por licenças criativas duvidosas do diretor - elementos contemporâneos como violência, velocidade e talvez um pouco de pornografia, tudo devidamente maquiado pela tecnologia 3D: eis a receita dos estúdios pra produzir um thriller que garanta alguns ou vários milhões nos bolsos dos figurões dos estúdios hollywoodianos. João e Maria vai bem nessa linha - só que na parte "licenças criativas duvidosas" os criadores do filme vão além e em plena Idade Média vemos no filme uma vitrola, uma arma de fogo digna de Matrix e - pasmem e se perguntem "Porquê? -  injeções de insulina... Tipo: que maconha foi essa que esse povo fumou? Ao longo do filme a experiência infantil do 3D narcotiza vc um pouco em relação à ruindade do filme... No fim, vc se arrepende de ter gasto seus 20 reais.  Classificação: podre.

O impossível

Família luta pela sobrevivência depois da tsunami do Natal de 2005 na Tailândia. A sinopse promete um drama daqueles; e o filme cumpre. A história ultrapassa em alguns pontos o nível médio dos dramas comuns. Cenas bonitas de solidariedade são bem dosadas com as de tragédia pura: pessoas sendo moídas pela correnteza da terrível onda, o desespero de perder a família no meio do caos instalado, a ajuda de desconhecidos que trazem o refrigério da esperança... Preparem o lenço, certamente. Deveria dizer que o final é feliz? Digo sim: pra compensar a tonelada de tristeza oferecida em pedaços grandes no filme. Vejam.

50%

Mais um drama: do tipo que dá vontade de viver. Jovem descobre que tem câncer: amigos que somem, amigos que ficam, lições dolorosas proporcionadas pela tragédia da doença, e claro, amor que brota de onde não se esperava. Mais lenços. Classificação: muito bom.

As aventuras de Pi

Lindo, denso, tenso, pedagógico e cheio de pedacinhos pontuais de sabedoria. Histórias de náufragos lutando pela sobrevivência quase sempre são bonitas e inspiradoras. Essa aqui é mais do que isso: é linda, é bonita de se ver e de sentir - mesmo sendo baseada num livro que "tomou emprestado" (pra ser simpático) o miolo da historia de Moacyr Scliar, Max e os felinos... Empréstimos do tipo são mais ou menos inevitáveis hoje em dia - mas daí a vc declarar que "Me inspirei numa boa história de um péssimo escritor", já é muita ousadia... Polêmicas autorais à parte  - sem dúvida, vejam e se deliciem. As reflexões religiosas presentes no filme podem agradar aos mais crédulos, ou pelo contrário, podem desagradar, pelo mesmíssimo motivo: o profundo respeito a todas as religiões. No final, presente para os freudistas: o estratagema um tanto irritante de alguns autores de, no fim de uma história um tanto fantástica, oferecerem a possibilidade de que toda ou parte da ação possa ser interpretada no divã... Classificação: lindo.

A ilha

Esse eu revi depois de muito tempo. Tipo de filme alarmista mas que se baseia em ideias bem factíveis: micro-sociedade ultra-vigiada onde "sobreviventes" de uma suposta contaminação global levam uma vida onde suas perguntas sobre "Porque" ou "Como" nunca são respondidas - mais um no esquema "A curiosidade e coragem do espírito humano salva o mundo". O herói da história, impulsionado por seus questionamentos ultra-clichê acaba descobrindo uma terrível realidade na qual ele e seus concidadãos não passam, resumidamente, de gado... ou, mais especificamente, e já fazendo um pouco de spoiler, têm como função vital a de serem apólices de seguro de vida para outros seres humanos ricos que pagam uma grande corporação para que... Não vou dizer o resto. Apesar dos clichês, é muito bom. Dá o que pensar. Classificação: veja.

O lado bom da vida

Filme interessante que aparentemente tenta melhorar o ânimo dos que sofrem das "novas doenças mentais" do nosso mundo ansioso de hoje, dizendo que "sem pró, ser doido é normal". Comédias românticas realmente não me apetecem muito (porque em geral o lado comédia [ que penso que deve ser sempre um pouco ou muito ácido] quase sempre se dilui no açúcar do romantismo barato...), mas essa é cínica e rápida, num ritmo que às vezes dificulta o acompanhamento de todos os detalhes. Disseram que Robert De Niro não está bom nesse filme - não sei porque... mas enfim, que sei eu? O ator principal, cujo nome não me vem à mente agora, é apenas "legal". A Katniss de Jogos Vorazes, porém, além de felinamente linda, faz um papel sensível, forte e decidido. Merecia ou não merecia o Oscar? Who cares? Classificação: bom.

Love

Não, nem comédia romântica nem drama: ficção científica do tipo baixo custo e boas ideias: astronauta que vive sozinho numa estação especial tendo companhia só a si mesmo e computadores perde contato com a Terra e se vâ forever alone, perdido no espaço, na órbita do planeta. O filme é sua história pra não endoidar. Sim, um pouco de tédio está nas previsões. Não, não é perda de tempo. Sim, há muitos filmes melhores. Talvez, talvez valha a pena. Classificação: uma boa ideia não basta pra fazer um bom filme. Ah, o final é surpreendente, e a confusão é proposital mesmo - mas tipo, nada a ver...

Prometheus

Ficção das boas. Quem acompanha a série Alien vai se deliciar com as cenas nojentas. Na economia da saga (Alien 1, 2, 3 e 4 - Alien vs Predador não contam), elementos novos são introduzidos e promessas de reformulação de alguns aspectos da história e de revelações bombásticas também aparecem - mas mais perguntas ainda são feitas. Seres humanos são experiência de engenheiros extra-terrestres que depois de nos criarem decidem nos destruir sem quê nem pra quê. Ora, mas porquê? E quem são esses "engenheiros"? De onde vêm? Porque decidiram nos destruir? Questões filosóficas e religiosas entremeiam toda a história - se bem que em alguns momentos, impressões de déjà vu são inevitáveis... Visualmente muito bem realizado. O humor é meio problemático e algumas frases soltas sobre vida e morte e deus são ingenuamente profundas. Classificação: vejam.

Cloud Atlas

Não, esse aqui merece um post só pra ele.

Argo

Todo mundo conhece a história e ela realmente é boa. Mas só eu vi o narcisismo do Ben Affleck em ação ao longo do filme todo? "Eu sou lindo", "Eu sou demais", estão em quase todas as cenas em que ele aparece... Não que ele não seja lindo e demais (ele é, demais até!), no entanto, porém, entretanto... né? O auto-louvor do cinema americano também soou algo pretensioso - mas as bases "reais" da história falam a favor do filme... enfim. Vejam. Classificação: bom.



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um pouco de tarantinologia


Não, se vingar não é uma coisa bonita – foi assim que aprendi e assim que tento ser no dia a dia... Claro que depois daquele tapa na cara dado de forma cínica e injusta por aquela pessoa que te detesta sabe-se lá porquê, a vontade é de chorar um pouco, engolir o rancor momentaneamente  e depois expurgar tudo em forma de um ritual vingativo preparado na penumbra com gargalhadas de bruxa de desenho animado...

Apesar de a vingança matar a alma e envenená-la, como diz o seu Madruga, ela pode sim trazer prazer – que atire a primeira pedra num cartaz de um filme de Tarantino quem nunca cometeu um ato, por menor que tenha sido, de vingança e no fim, tenha se sentido melhor – pelo menos aparentemente...

Mas se você é uma pessoa que tenta antes de tudo viver uma vida de paz e amor, os filmes desse artista da vingança americano são uma boa sugestão de relaxamento catártico.

Não sei quem foi que disse que a vingança é como um ato mágico, pois supõe que ações calculadas e orquestradas sob um sentimento tal terão consequências ilógicas sobre o estado de espírito ou sobre a realidade de quem os comete. A equação é simples e até bíblica: olho por olho, dente por dente. Aliás, se formos nos espelhar nos deuses nossos de cada dia, seríamos bem mais vingativos do que somos: Sodoma e Gomorra, Jericó, Apocalipse, Prometeu, etc. A vingança é uma força muito forte, assim como o medo e o amor. E quem sabe dominar qualquer um deles, ganha um mundo, ganha olhos e mentes.

É com essa força que anima seres humanos e deuses que Tarantino brinca – e muito bem, obrigado. Que eu me lembre, as coisas mais violentas de que fui capaz foram cascudos e empurrões nos meus amados irmãos (não, nunca briguei na escola); mas não nego os batimentos cardíacos fortes diante das cenas de pura vingança que o diretor americano nos oferece numa diversão digna do circis romano. Mas admitamos, não se trata apenas de apelar ao “instinto” de violência evocável em cada ser humano (no contexto preciso) – é um pouco mais do que isso (e o quanto “mais” deixarei impreciso mesmo, já que isso aqui são apenas comentários despretensiosos de quem acabou de ver um filme legal).

Homem versus mulher, vítima versus algoz, negros versus brancos. Kill Bill, À prova de morte, Django Livre – esse foi o último da lista de “vinganças clássicas”. Claro que a hipérbole está presente em todas as histórias de Tarantino: a sacanagem que o Bill faz é realmente uma sacanagem; as meninas perseguidas e assassinadas como animais em À prova de morte são realmente perseguidas e assassinadas;  e em Django Livre, onde um escravo inesperadamente liberto por um caçador de recompensas alemão se vinga de seus opressores, ele é realmente vilipendiado e violado em sua humanidade... E eis aí o caminho pra gente entender o poder diferenciado da vingança em Django se comparado aos outros filmes tarantinescos.

Estamos falando da vingança de um povo abusado, torturado, mastigado pelos sistemas econômicos e religiosos mundiais durante séculos. Estamos falando de milhares de gritos, de litros de sangue, de toneladas de carne queimada e apodrecida sob os olhos de outros seres humanos apáticos ou absurdamente sorridentes, bem vestidos e tementes a deus (não ouso pôr maiúscula aqui pelos melhores e piores motivos). Django, como símbolo óbvio do escravo africano tratado como coisa e depósito de ódios e rancores seculares, queira-se ou não, mexe sim com alguma coisa dentro de você – sobretudo se o tom de pele do espectador for próximo ao do personagem.

Django é fictício, assim como a judia Shoshana de Bastardos Inglórios, que se vinga dos que mataram sua família explodindo um teatro cheio de soldados e autoridades nazistas em Paris. É fictício mas perfeitamente imaginável e possível. Nesse buraco negro histórico, que são os séculos de escravidão, cheio de sangue e dor e trevas, imaginar um herói sedento de vingança eliminando um por um os habitantes da Casa Grande é lógico e aceitável ao espectador.

Não chego a uma conclusão se Tarantino é um doido que sabe que apenas cria filmes que cutucam a alma das pessoas, ou se ele se vê como um pregador que divulga sua filosofia da vingança por meio de suas películas. A primeira opção é a que imagino mais procedente, mas de qualquer maneira, fazer pensar também é um mérito dele. Em seus filmes, o sentido de empatia se estabelece desde o começo: a dor, a tragédia e o abuso dos personagens principais, sejam eles um ex-escravo, uma judia ou uma noiva abandonada, criam imediatamente um laço com o espectador – o que facilita esse exercício empático com as figuras sedentas de vingança: “Se eu fosse esse Django...”, “Se eu fosse a Beatriz...”, “Se eu fosse essa Shoshana...” nascem na nossa cabeça na hora, e o que completa essa frase é o que Tarantino nos mostra na tela. No fim das contas, por meio da sede de vingança, Tarantino nos propõe as doçuras e agruras (sobretudo agruras) de ver a vida através do olhar do Outro -  vamos combinar que isso não é de se esnobar.

O normal é que façamos algumas caretas ao longo do filme, sorriamos um pouco, talvez um tanto culpados diante de uma quantidade não desprezível de sangue que rola, e suspiremos no final, satisfeitos pela ordem restabelecida pelo ato mágico da vingança. O normal é que essa catarse sirva – que sirva bem pra nos purificar e nos fazer deixar pra lá as mágoas e rancores do quotidiano, a fim de evitar saindo por aí matando Bill ou os senhores da Casa Grande... Até porque, há mil e uma maneiras de fazer isso – vamos escolher as menos violentas e deixemos o molho de tomate fazer papel de sangue nos filmes de Tarantino mesmo.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Shortbus

Eu não vou falar muito desse filme, usando como desculpa o que não poucas pessoas naqueles momentos de muito falatório pré-cópula fazem pra dissimular calma e sabedoria, quando na verdade urgem ardentemente por agir: "Há certas coisas que não devem ser ditas e sim feitas".

No entanto pra não cairmos completamente no vazio, digamos que ao ver Shortbus é inevitável lembrar de Woodstock, e também um pouco do Jardim dae Delícias, de Hyeronimus Bosch. Mas 2006 não é 1960, e então a lembrança passa rápido e voltamos pro nosso mundo cheio de neuras, depressão, moralismo, frustração; os freudistas de plantão meteriam a palavra "sexual" depois de cada uma desses termos (Freudistas são exagerados e criativos, assim como o líder da seita), com um prazer infantil... 

Fiquemos sabendo logo que o filme não é para menores, mas ajuda os maiores "permeáveis" (nas palavras de um dos personagens) a atingirem talvez uma nova visão sobre as manifestações comportamentais de diversos tipos que chamamos de sexo...

Vejam. E espero que seja bom pra vcs como foi pra mim.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

As bichas que gongavam as raxas

Acho que não é porque as feministas aparentemente adoram a obra de Stieg Larsson que a série de três (ou quatro) livros deve ser chamada de feminista.

A figura de Lisbeth Salander, a heroína do escritor sueco, é desafiadora, tanto pro autor como para o leitor. Os anti-herois pululam há muito tempo na literatura, e no cinema já têm virado um clichê (jovem rapaz fracote que vira super-herói musculoso, etc). Em Os Homens que não amavam as mulheres, não se pode dizer que a heroína evolui, no sentido de que se torna outra pessoa irreconhecível em relação ao começo. Ao contrário, a dejustada e misteriosa Lisbeth se vê desde o começo de tudo diante de fantasmas da sua infância e adolescência que ela tem que enfrentar sem alternativa possível. E faz isso afirmando-se enquanto mulher certa do que quer e do que faz, numa saga tão original quanto ela mesma. Não exatamente bonita, amante das roupas pretas, sexualidade tateante e afeita ao silêncio ou aos monossílabos, a jovem de vinte e poucos anos incorpora em si uma série de traumas ou problemas que têm tudo a ver com os desajustes familiares das sociedades ocidentais atuais – obviamente num nível catarticamente exagerado.

O título em português do primeiro livro, transformado em filme por Hollywood recentemente, segue o original sueco Män som hatar kvinnor, e, talvez diferentemente do original, esconda mais da incrível e apaixonante história de Lisbeth do que a torne atraente... O título inglês, que em português seria A garota com tatuagem de dragão é mais sensata. Os homens que não amavam as mulheres jogado de cara nos nossos ouvidos, nos contextos de discussões pops atuais, lembra algo mais próximo daquilo que denota o título desse post do que outra coisa. Mas pelo escrito até agora, fica mais ou menos claro que a sugestão imediata não tem nada a ver com a riqueza da história.

Entre os “homens que não amavam as mulheres” estão homens violentos que se divertem agredindo filhas e esposas, estão loucos nazistas misóginos, os exploradores sexuais, os violadores... Lisbeth Salander é a que se ergue da bagunça que é sua vida - exatamente por ter sido vítima do não-amor dos homens - para lutar contra a falocracia generalizada e o reinado de violência adjunto.

Cenas duras de violência, sagacidade, humor e amor não faltam. O ritmo é de um drama investigativo e de um thriller de ação. Impossível não lembrar do esquema Tarantino ao nos vermos torcendo pelas vinganças perpetradas por Lisbeth – e muito bem feitas.

Não digo mais sobre o filme. Ainda sobre o título, a sala de cinema com menos da metade dos lugares deve ter a ver com isso. Um filme tão bom quanto é Millenium, sugerido pelo primeiro livro da série, merece aplausos.

E claro que estamos falando de Hollywood. Europa é e sempre será outra coisa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Avatar 2D em P&B mudo

Não passamos por um século de cinema incólumes. Nem o próprio cinema.

Em The Artist todas as aparentes e propositais lacunas são preenchidas pelo muito e pelo excesso de cores, sons, ângulos e histórias que engolimos ou nos engoliram na sala de cinema ao longo de tantas décadas e sobretudo das últimas. (HItchcock, Tarantino, Almodóvar, Cameron, Spielberg...) O olhar reflexivo do filme mostra primeira grande ruptura da sétima arte em sua história: o surgimento do cinema falado. Se por trás dos nossos óculos 3D mal conseguimos imaginar o que era se tacar numa sala  pra assistir filmes sem cores e sem som nenhum, The Artist parece que nos dá uma ideia da revolução que foi ouvir pela primeira vez o galã falar e a mocinha claramente sorrir em vez de terem seus lábios se movendo mudos, transcritos em letras trêmulas na tela.

E a ideia de 1929 parecer com 2011, 2008 ou 2012 se vê repetida no filme: um crash na bolsa, um cinema que morre pra outro que nasce, artistas que se veem obrigados a se adaptar a um novo modo de fazer e viver na tela grande.

Sem abandonar o hábito de ceder ao clichê: mesmo sem ser dita uma palavra, o filme é eloquente de um modo inesperado (indicações ao Oscar não foram à toa) - destaque para o sonoro "bang!" do final...

Eu não sei, mas além de interessante, acho que seria sintomático ver o Oscar de melhor filme sair para um filme mudo em preto e branco, não muito tempo depois de haver-se laureado incansável e mercadologicamente um monstro de duas horas e meia com suas cores e movimentos estonteantes em 3D... Sintomas de doença ou de cura?

Vamos fazer uma aposta que o cinema de 2030 vai ser ininteligível às nossas cabecinhas confusas de início de século XXI?
Vejam The Artist.

domingo, 13 de novembro de 2011

La Piel que Habito

A metade do filme é classicamente Almodóvar: a cor vermelha, reflexões visuais sobre o corpo, menção à animalidade do homem, sexo direto e indireto, um pouco de sangue, de suspense, de tragédia e pitadas de trash. Quando começa a cansar, aí Almodóvar lembra porque é chamado de gênio, e num jogo surpreendente e desestabilizante nos faz engolir goela abaixo os restos de preconceito que ainda alguns ousam ter quando se fala de ser ou não ser alguma coisa... 

Compartilho da sede de investigação e da agonia do diretor espanhol a respeito do que é ser um homem, do que é ser uma mulher. As soluções que ele encontra pra expressar as imprecisões e limitações do pensamento humano sobre o assunto são únicas e poderosas.

Popmente falando, eu diria que Rafinha Bastos e cia (misóginos defensores do estupro) deveriam urgentemente ver esse filme. Ou talvez não - sairiam do cinema dando as risadinhas histéricas que se ouviram de meia dúzia de pessoas que estavam a fim talvez só de algumas cenas de homossexualidade com reflexões existenciais diluídas em piadas mais ou menos leves...

Talvez La Piel que Habito não tenha o ritmo de Kika ou a extrema poesia de Hable con Ella - mas é mais incisivo, mais sexual e reflexivamente penetrante do que qualquer outro.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Melancholia

Melancolia... do grego: deprê, do paraibano, borocochô... também é o título do último filme daquele diretor de nome jedi, o mesmo que disse que entendia Hitler. (Posso até ouvir os pensamentos "Ai como ele é chato! O Lars von Trier é um grande diretor, um dos melhores das últimas décadas, etc e tal - o fato de ele ter se tornado persona non grata em Cannes foi uma infelicidade..." - aham Cláudia... )

O que se esperar de um filme com um nome e um diretor desse? Antes de qualquer coisa, sinto do fundo do meu coração que devo dizer que não sou crítico de cinema e nem pretendo ser. Sou apenas um espectador que vê coisas e que inevitavelmente as comenta - e antes de um belo e estúpido "Guarde pra si..." eu adianto um "Saia daqui". 

Já imunizado então:

O filme se arrasta. Tanto quanto Dançando no escuro, que mesmo tendo Bjork no elenco, é de uma chatice, Jesus amado, emocionante... Gostei de Manderlay - mas porque será que Lars von Trier sorrindo a Hitler não me soou tão estranho enquanto via esse filme...? Mistura de drama com ficção científica, Melancholia foi feito pra isso mesmo: convidar vc a um mundo que desmorona e em breve se destruirá como único caminho e solução possíveis (e daí se parafraseio?). Das duas partes, Justine e Claire, a primeira é de longe a mais insuportável - sendo que a segunda, por girar em torno de Claire e por conseguinte, em seu medo de ver a vida na Terra destruída pelo doido planeta Melancholia, surgido do nada de de trás do sol...(jura mesmo? de verdade?) tem mais a ver com não querer morrer - nessa parte também há mais "ficção científica". Tudo bem, a ideia de que há sabedoria no luto da morte da própria vontade de viver me é simpática - mas a maneira cansativa com que Lars von Trier diz isso não me é. Juro que um dia vou saber dizer exatamente o que eu quero dizer, mas há um "Cara, eu sou foda" em forma de perfume em todo o filme: no inesperado, no óbvio, no que é pessoal do diretor, até no que é realmente bom (as cenas ultralentas no início e o depauperamento de Justine na segunda parte) há esse cheiro - como alguém que exagerou na dose de perfume, ou que usa o mesmo há muito tempo...

A impressão que eu tenho é que Melancholia é uma múmia do Egito que se na verdade não fosse do Egito seria só uma falsificação bem feita.

Enfin...

Veria de novo?

Veria.