Sob a expressão “teoria da
conspiração”, escondem-se, penso eu, conjuntos de ideias, informações ou
crenças que são injusta e inadequadamente postas num mesmo saco, tão variada e
diferente são as naturezas desses conhecimentos ou teorias. Não fui atrás de
definições no dicionário, mas o que se conhece como “teoria da conspiração” parece ter que ser, primeiro, uma teoria - dâ! - e apontar algum organizações ou figuras que atuam debaixo dos panos sob algum tipo de motivação ou
intuito obscuro e oculto e que não deve ser compartilhado com as massas.
Ok – pois nessas caminhadas bibliográficas, dei de cara com um cara que pode ser chamado de máster ou deus das teorias da
conspiração: Jacques Bergier. Ele é polonês, mas morou na França e adotou o nome francês cedo. Entre as profissões que exerceu estão a de engenheiro,
jornalista, espião e... ocultista. Ele é uma daquelas figuras exóticas,
incríveis, instigantes e inspiradoras que combinam, num mesmo cérebro, numa mesma personalidade, caraterísticas que são, a princípio contraditórias,
pelo menos aparentemente.
Pelo que consta, ele aos dois
anos já lia e escrevia. Era um gênio. Tinha memória fotográfica e foi quase
inevitável se tornar um homem de ciência, e não qualquer um: realizou
trabalho importante relacionado ao funcionamento de mecanismos que até hoje são
utilizados em toda usina nuclear. Conheceu pessoalmente, e trocou figurinhas,
com Arthur C. Clarke (deus da ficção científica) e H.P.Lovecraft (deus dos livros de fantasia de ficção científica, ou vive-versa) e se diz que foi ele quem deu
a ideia pro personagem de James Bond – o que não é de se duvidar depois da
leitura de seus livros...
Os Livros Malditos foi um livro
que baixei – no melhor estilo pirataria cínica – sem saber do que se tratava; o
título é legal e a sinopse interessante. Logo de início, nos primeiros parágrafos, você não entende
bem o que está lendo: isso é ficção ou é pesquisa científica ou pseudocientífica?
Como o próprio título do livro
indica, Bergier fez uma pequena lista de alguns livros que ele chama de
malditos, a fim de explicar porque eles o são: e a solução é ótima: porque todos
eles contêm conhecimentos profundos e revolucionários que, se fossem tornados
públicos, poderiam levar a humanidade à autodestruição; por essa razão, uma
associação chamada Homens de Preto (isso mesmo!) foi criada para cuidar de
evitar, do jeito que for necessário, que esse conhecimento caia em mãos erradas.
Gostou do enredo? Mas lembrando:
estamos falando de um homem de ciência, sóbrio, ser humano efetivo e eficaz, que, ao mesmo tempo, fala de alquimia, espelhos que servem de comunicação com extraterrestres, armas
de destruição em massa a distância... tudo isso como se fosse factível e
perfeitamente possível.
Jacquer Bergier é incrível. Ele é
um daqueles personagens que parecem ter saído de um conto do Jorge Luis Borges:
pessoas que no seu quotidiano encaram o invisível e o fantástico como elementos integrantes da realidade; pessoas que, apesar de conduzirem uma vida pautada na lógica
científica, por isso mesmo, decidem ser corajosos e enfrentar aquela série de
fatos e acontecimentos estranhos que, mesmo hoje, nesses dias de fotos e vídeos
ubíquos, vivem acontecendo... Parece que o mantra de Bergier, assim como o de
Jorge Luis Borges, é uma hiperbolização daquele dizer super clichê: “existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia” – Bergier, como
homem de ciência, substitui, de forma bem clara e didática, filosofia por ciência.
Porém ele não é um idiota como
Daniel Däniken, que falsificou dados, intepretações e inventou mentiras pra
provar que alienígenas são responsáveis por tudo (o que sobrevive ainda nos
programas histéricos e engraçados do HIstory Channel). Ele é como se fosse o primo
mais equilibrado do autor de Eram os deuses astronautas, ou, como disse um
prefacista, acho, dele, que Bergier é o parente distante meio louco que anima a
festa de família, mas com quem ninguém quer muito contato.
Pra quem viu Arquivo X, é fã do
Snowden (o que não quer dizer não ser seu crítico) e pensa bem antes de digitar
qualquer coisa na barra de busca do Google (por medo de que uma palavra como “hemorroida”
seja associada ao perfil secreto que a empresa comprovadamente guarda sobre
cada um dos seres conectados deste planeta), Bergier não diz nada de muito
novo. É a forma clara, aberta, convicta e ao mesmo tempo cuidadosa, mas
vigorosa, com que ele diz que hipnotiza, e faz os amantes (não crentes...) das teorias da conspiração,
just like me, sentirem seus corações baterem forte.
Só pra dar um gostinho:
impossível não pensar que a ideia toda do filme Homens de Preto surgiu a partir
da leitura dos escritos de Jacques Bergier.
"Parece fantástico imaginar que existe uma Santa Aliança contra o
saber, uma Organização para fazer desaparecer certos segredos. Entretanto, tal
hipótese não é mais fantástica do que a da grande conspiração nazista. É que,
somente agora, nos apercebemos até que ponto era perfeita a Ordem Negra, até
que ponto os seus afiliados eram numerosos em todos os Países do mundo, e até
que ponto essa conspiração estava próxima do êxito. É por isso que não podemos
rejeitar, a priori, a hipótese de uma conspiração mais antiga.
[...]
Encontram-se traços dessa conspiração, tanto na História da China ou
da Índia, quanto na do Ocidente. Dessa forma, pareceu-nos necessário reunir
toda informação possível sobre certos livros malditos e sobre os seus
adversários".
Pra quem quer uma leitura estimulante e diferente de tudo o que você
já viu, taí uma sugestão. Muito interessante que ele conta histórias como quem
conta uma novela com intrigas, traições e mortes, e ainda fornece vários nomes
e datas – a maioria, se verificado na Wikipédia, bate em tudo com as
informações que o autor nos dá, o que dá um ar de veracidade (que chega a ser
inquietante) ao que ele diz, mesmo que se trate de um livro que tenha o poder
de controlar mentes a milhares de quilômetros de distância...
Mas lembrando, ele não é um doido varrido. Livros Malditos é só um dos
livros de Jacques Bergier. Em um outro, o tema é o império do petróleo...
Escrito no final da década de 70, ele parece descrever tudo o que está
acontecendo atualmente, no sentido de guerras e conflitos relacionados ao
sangue negro...
Enfim, leiam.
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