São quase 8 bilhões, ou somos quase 8 bilhões (se quiser ser
mais inclusivo), de espécimes humanos na casca desse planeta. Se a Terra fosse
uma maçã, qualquer observador com um microscópio concluiria que essas manchas
na superfície azul, verde e marrom, esses dejetos, essa poluição criada pelos
micróbios humanos, são coisas ruins e devem ser extirpadas…
Mas ok, não entremos nesse papo
existencial ecológico.
Falemos de cascas e caroços, mas
não de frutas ou da Terra (que, aliás, fechando a metáfora acima, seria uma
maçã inteligente, ou smart apple – longe de sucumbir à podridão microbiana
humana, como sói ser, ela se autorregularia [nem que demorassem séculos] e
acabaria matando os germes com tsunamis, raios solares impiedosos, etc…) –enfim,
falemos sim de cascas e caroços, mas de seres humanos.
What the hell?
EM certas situações conextuais da
vida de uma pessoa, como a saída de um emprego, uma mudança de país, ou o
término de uma relação, é normal que se entre num estágio, duradouro ou não,
intenso ou não, de abertura a novidades, a novidades relacionais e interativas –
ou seja, vocÊ se disponibiliza a conhecer pessoas. E isso, conhecer pessoas,
seja no trabalho, no bar, na rua, na faculdade – sempre é uma aventura – ou uma
desventura.
Três décadas de existência (quase três décadas
e meia) são algo digno de nota – pra quem tem mais, nem tanto, mas não entremos
nessa discussão etária. Depois de um certo tempo, sobretudo se vocÊ é uma
pessoa que tem que lidar diariamente, de forma contínua e necessa´ria, com
outras pessoas, e gente de todo tipo, certos padrões começam a se repetir. Mesmo
que não se parta de simplificações maniqueístas e um tanto estúpidas, tais como
boa pessoa versus má pessoa; pessoa
negativa versus pessoa positiva; cara legal versus cara chato, certos padrões vão surgindo, emergindo, se repetindo ao
longo do tempo e do espaço: seja em Paris ou em Caucaia, Buenos Aires ou Canoa
Quebrada, um incrivelmente estável padrão de modus operandi emocional humano
vai se revelando, se você for uma pessoa atenta, paciente e meio doida. Junte
essa impressão de padrão, ou convicção, ou whatever, com conhecimentos mais ou menos
esparsos de psicologia, psicanálise, budismo e linguística e você tem uma
reflexão miçangueira de humanas típica – simples e inspiradora, calcada num
pragmatismo light e ao mesmo tempo humanista, e com laivos de misticismo…
Falando logo: pessoas são casca,
egos são caroços. Pessoas são serezinhos, serumaninhos desesperados, loucos,
doidos por proteção e amor – todos, TODOS, sem exceção. E são frágeis, estão
mais pra ovos de galinha do que pra frutas. Conscientes de sua fragilidade, a da
necessidade vital do Outro, esse ser humaninho busca aprender a se defender – e
cria cascas, camadas de dermes, epidermes, megadermes. O desafio é:
defender-se, endurecer a carapaça e, ao mesmo tempo, manter algum orifício de
entrada (olha o séquiço aí), alguma região sensível, onde o toque não seja
experimentado como mera cócega, mas como carinho quente, ponto G, calcanhar de
aquiles de conexão íntima afetiva com o outro… Nesse paradoxo – se fechar pra
se proteger, mas se abrir pra se conectar de verdade e profundamente com alguém
– reside a agonia e o petético, o ridículo dos seres humanos.
Toda uma fauna de Homo afetivus
ridiculus floresce então: aqueles que escondem qualquer necessidade do Outro e
esbanjam autossuficiÊncia – a única brecha afetiva sendo o sexo puro, como um
comportamento histérico, um droga, um TOC…
Tem os que até abrem um
buraquinho (olha o séquico again…) e mostram um pouco do núcleo, um brilho
vermelho de um coração de rubi pulsando lá dentro – mas quando veem nos olhos
do Outro algo que não era a chama de amor e de admiração que esperava, fecham
tudo, dizem que aquilo foi um show e saem correndo, quase que literalmente…
Tem os que meio que decidiram ser
malvados – sabem que tem uma galera mais boba que é louca por emoções
fortes - o ovo que adora rolar
doidamente e cair da borda da mesa – e dão uma de esfaqueadores de corações:
acabam com corações como quem come coração de galinha. Mas calma – os malvados
também tÊm coração – salvo raridades neurológicas mórbidas, todo mundo se sente
só, todo mundo chora, todo mundo quer ter alguém do lado.
As tipologias acima, é claro, são
insuficientes – são fruto de observações pontuais e sob uma única perspectiva –
a de um ser humano que vive e sente.
Voltando aos caroços.
Desde pequenos somos ensinados a
pôr isso que chamamos de Eu num pedestal – deriva disso a ideia de que se
deixar fazer de bobo é um pecado mortal; os pais, sobretudo os do sexo
masculino, criam toda uma mitologia pra convencer o filho de que ser passado
pra trás é vergonhoso, é desonroso, etc. Esse é apenas um exemplo de como o ego
é supervalorizado – em detrimento do que sentimos ou queremos. Proteja seu ego,
proteja seu eu, não o exponha, não o deixe sofrer, não arranhe seu orgulho,
defenda-o com a própria vida social. E como um cachorrinho de dondoca fresco, o
ego fica lá dentro de uma jaula, latindo em desespero, artificialmente limpo,
asséptico – quando na verdade o que queria era sair correndo, se sujar na lama,
bater a cabeça na parede, copular com os viralatas na rua…
Não sei se está bem claro, mas
repetindo:
Todos os Homo Sapiens são frágeis
e necessiatados de amor e carinho – e isso é uma constante que se faz assustadoramente
presente. O que diferencia cada criatura humana é a forma como expressam essa
necessidade – mais ou menos como comer: enquanto uns são delicados à mesa,
comendo devagar (olha o séquiço) e mastigando muito, outros comem como cães
famintos, engolindo tudo de uma vez… E como cachorros loucos, atacam
enraivecidos a mão que queria afagá-los…
Pra terminar: é impressionante
como, na maioria dos casos, é simples descobrir esse caráter frágil – e lindo –
das pessoas. Uma conversa, alguns gestos, olhares sinceros, e as pessoas se
abrem, desabrocham como flores… ou explodem como bombas… Mas sempre lá dentro,
o mesmo caroço mole, o mesmo coração esponjoso sedento por contato,
compreensão, proteção – ou seja, amor.
O triste, cômico, trágico do
processo, como disse, são as estratégias de defesa e expressão desses
corações-caroços – uma película transparente, uma couraça de espinhos,
agressividade verbal desnecessária, falsidade exarcebada, superficialidade
afetiva e emocional…
Homo Sapiens e suas loucuras: #amo #odeio #apenasObservo
"...Incontáveis arrependimentos são gerados pela confiança dada à pessoas erradas… e o quão desolador isso pode ser! É um tipo de sabedoria que vem com o tempo e, infelizmente, com as experiências negativas, levando as pessoas a se fecharem cada vez mais, obrigando-as a encolher o próprio universo, restringindo-a a uma prisão sem visitantes. E sufocam-se nela. O que ocorre então, em função disso, é o acesso negado à quem “chega atrasado”.
ResponderExcluirAquela pessoa que viria a importar (e se importar) realmente. É este alguém que paga o preço pela incompetência dos outros.
É este alguém que não é percebido, tratado como “mais um”, comum entre tantos outros. E é isso que torna em verdade a expressão “os homens são todos iguais”. E claro, eu reconheço não ser ninguém para tentar desmenti-la..."
PERFECT! ME INSPIRO.
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